São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Crítica/exposição

D'Agata flagra a sublimação de desejos da carne em imagens

Divulgação
Fotografia do francês Antoine D'Agata, parte de "A Cidade e Sua Anatomia", que fica em cartaz até 2 de julho na Caixa Cultural


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No "baixo ventre de uma cidade genérica, onde o dia copula com a noite", o fotógrafo francês Antoine D'Agata, 45, captura o frenesi do homem na busca irrefreável do prazer, numa balada regada a sexo, drogas e desejos incontidos, que pode ser visto na mostra "A Cidade e Sua Anatomia", até o próximo dia 2, na Caixa Cultural, no centro.
D'Agata faz parte da nova geração de fotodocumentaristas da Magnum, a mais célebre das agências de fotografia. Prega uma fotografia que busque a relação mais íntima possível com o mundo. Critica Sebastião Salgado, além de outros intocáveis, por achar que eles privilegiam um projeto estético em detrimento de uma relação mais verdadeira com o mundo.
Em "A Cidade e Sua Anatomia", esse olhar visceral é exemplarmente captado por D'Agata. Seu tema são os embates do ser na busca incessante do prazer físico, seja pela convulsão do orgasmo, seja pelo torpor da mente entorpecida.
Se o corpo é a chave de acesso aos prazeres terrestres, também é a prisão que limita a expansão do ser no universo, a medida de sua pequenez. Prazer nenhum sacia a angústia desses corpos lúbricos movidos por alegrias anfetamínicas e banhados pela luz desbalanceada dos quartinhos de sexo por aluguel. É o privilégio do corpo sobre a razão. Homem-animal.
"Nesse caos esclerosado, onde os membros enrijecidos pelo desejo escavam o nada, onde a morte se convida para o banquete funerário da carne, aproprio-me dos gestos, desvio os atos, vomito os sinais que indicam minha distância das coisas", escreve o próprio fotógrafo no catálogo da mostra, apontando para a impossibilidade de realizar um relato dessa magnitude sem envolver a própria carne.
A câmera fotográfica deixa de ser um aparelho objetivo que observa à distância para se tornar extensão não do olho, mas do corpo em êxtase. Um gozo. Um jorro. Um vômito. Fotografia-instinto. Imperdível.

A CIDADE E SUA ANATOMIA
    
Onde: Caixa Cultural (pça. da Sé, 111, centro, tel. 3107-0498)
Quando: de ter. a dom., das 9h às 21h; até 2 de julho
Quanto: grátis


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