São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Próximo Texto | Índice

Artistas acentuam espaços vazios

Obras de Fábio Miguez, Emmanuel Nassar e das jovens Marcia de Moraes e Ana Prata se expressam por frestas e intervalos

Mostras individuais simultâneas dos artistas com desenhos, pinturas e instalações começam amanhã no Maria Antonia

Divulgação
'Vaca', tela da artista Ana Prata, que ganha individual no Centro Universitário Maria Antonia

DA REPORTAGEM LOCAL

Está no espaço entre as formas a força das obras reunidas agora no Centro Universitário Maria Antonia. São trabalhos de anseio construtivo, que se expressam por intervalos entre desenho, pintura e instalação.
No primeiro andar, Fábio Miguez constrói um jogo luminoso com quatro chapas de vidro. Agrupadas de dois em dois, são faces de formas sobre planos transparentes, que flutuam num espaço de grandes vitrais.
"São formas geométricas, mas não têm geometrismo nenhum", descreve Miguez. "É mais um caminho errático."
Entre uma placa de vidro e outra, planos secundários constroem e habitam um terceiro espaço. "É uma parte residual da obra", diz o artista. "Não tem o cálculo, mas forma volume, vira uma escultura."
Também vira escultura o que era uma pintura de Emmanuel Nassar. No andar de cima, o artista desmonta um antigo painel construído como fachada e fecha as faces dentro de um cubo. Do lado de fora, o avesso.
Pelas frestas, vazam fragmentos do que antes ficava escancarado: letras soltas, o desenho de uma mulher nua, lâmpadas.
Mais uma vez, o intervalo vence a forma cheia. Nassar ressignifica a própria obra ao esconder o assunto e acentuar os fiapos de cor que saltam da caixa fechada. Lembra o voyeurismo de Marcel Duchamp em "Étant Donnés", obra em que exibiu o corpo de sua amante por um buraco de fechadura.
Mas no lugar da amante, Nassar espia a si mesmo. Sua pintura vira objeto de um autovoyeurismo narcísico, talvez mais potente do que sua fachada original, aberta sem esforço.
Sem sobressaltos, os desenhos de Marcia de Moraes expostos na sala ao lado surgem como paisagem inteiriça. Não escondem o jogo, mas se articulam pelos espaços vazios, as zonas livres de cor que denunciam ser tudo desenho. Reforçam a estrutura das linhas e a textura dos traços a lápis.
"É como se o bege do papel fosse outra cor", diz Moraes. "Sempre aparece algo atrás."
Do mesmo jeito que espaços negativos gritam mais que uma vaca ou calças jeans nas telas de Ana Prata, juntas no primeiro andar. Pelo parabrisa, uma paisagem derrete esbranquiçada no quadro mais forte do conjunto e arremata a ode ao vazio. (SILAS MARTÍ)


EMMANUEL NASSAR, FÁBIO MIGUEZ, ANA PRATA E MARCIA DE MORAES

Quando: abertura amanhã, às 20h; de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 10h às 18h; até 17/1
Onde: Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 3255-7182)
Quanto: entrada franca




Próximo Texto: Centro tem mostra de arquitetura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.