São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2002

Índice

ARTES

Mostra apresenta produção recente de 14 artistas que começaram juntos nos anos 80, fazendo grafite em São Paulo

Cores do grafite invadem a Casa das Rosas

Arret sur Image/Divulgação
"Geraldo de Barros e Electra", trabalho de Marta Oliveira feito em 89, em acrílica sobre tela, que está em "Rendam-se, Terráqueos!


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Rendam-se, terráqueos! A ordem é de Alberto Marsicano, que a grafitava nos muros de São Paulo no fim dos anos 70. Retomada agora, vira título de uma exposição que reúne, na Casa das Rosas, 14 dos principais expoentes do grafite na capital paulista dos 80.
"A intenção do [José Roberto] Aguilar [diretor da Casa das Rosas] era reunir artistas que, no final dos anos 70 e nos anos 80, conferiram à cidade, ao espaço público, todo um repertório iconográfico", explica Marcos Mello, curador da exposição.
A mostra se concentra nos trabalhos que foram realizados nos últimos anos por esses artistas, em óleo, acrílica ou nanquim, sobre suportes variados. A diversidade dos suportes é consequência direta da experiência do grafite, da improvisação, da variedade de superfícies sobre as quais era feito. "A gente quer traçar um caminho cronológico e saber o que esses artistas estão fazendo hoje", diz o curador.
"Foram artistas que deram a primeira investida na cidade, com pequenas frases, poesias, haikais cheios de significado e magia", segundo Mello. Era um começo de diálogo na cidade, representado por inscrições como "Ora H", de Tadeu Jungle, "Hendrix Mandrax Mandrix", de Walter Silveira, ou o anônimo "Cão Fila km 26".
O curador explica ainda que a exposição quis fugir do termo "grafiteiro", por achar que é uma denominação que possui um contexto próprio, ligado a um caráter efêmero e de anonimato, "pela própria questão de ocupar um outro espaço".
Mas em nenhum momento a influência do grafite é negada, pelo contrário. "A passagem pela rua tem o sentido de romper com o restrito, com o limítrofe. Eles queriam expandir a informação, colorir a cidade com imagem e poesia, questionar esse espaço, poder estender idéias ao maior número possível de pessoas."
O próprio espaço da Casa das Rosas se mostra oportuno. Em cada cômodo, cada artista monta seu próprio espaço.
Assim, Carlos Barmak enche sua sala com bolas cor-de-rosa, uma parte da sua pesquisa com infláveis. Carlos Matuck e Julio Barreto brincam com estênceis de maneira diversa, aproveitando as formas vazadas para fazer jogos de luz e sombra. Marta Oliveira trabalha minuciosamente com contas e miçangas em quadros coloridos. Palumbo interfere em ex-votos e anúncios de Coca-Cola. Arthur Lara continua sua campanha "Vote nas Putas (Porque nos Filhos Não Resolve Nada)".
A mostra ainda homenageia Seu Valdomiro, que desenha sobre eucatex com carvão, terra e cal, material que encontra na rua. "Ele traduz o espírito da exposição", afirma o curador.


RENDAM-SE, TERRÁQUEOS! - Onde: Casa das Rosas (av. Paulista, 37, tel. 251-5271). Quando: ter. a dom., das 12h às 19h. Até 31/3. Quanto: entrada franca.

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.