São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Grupo carioca estilhaça Tchecov em nova peça

Os Fodidos Privilegiados colocam no liquidificador "As Três Irmãs", "A Gaivota", "Tio Vânia" e contos do escritor

Diretor Antônio Abujamra diz que tenta preservar a atenção do dramaturgo russo ao desespero velado da decadente aristocracia


Lenise Pinheiro/Folha Imagem
O ator Mauro Chams (ao centro) é rodeado por colegas do elenco de "Tchecov e a Humanidade"


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nas peças do grupo Os Fodidos Privilegiados, fundado por Antônio Abujamra nos anos 80, no Rio, elencos numerosos estabelecem, como marca da companhia, um orquestramento vocal e gestual. A partir de amanhã, os Fodidos chegam ao João Caetano com a mesma proposta cênica: em "Tchecov e a Humanidade", 25 atores, sob direção de Abujamra e Hugo Rodas, estilhaçam obras do autor russo, reordenando-as em uma única montagem.
É uma experiência de ritmo que o grupo fundamentou em 1995, na composição de um retalho inédito com autores de várias épocas e estilos. O resultado foi "Exorbitâncias, uma Farândula Teatral", com 40 jovens atores. Mais tarde, em 1996, a mesma pesquisa contempla textos de Nelson Rodrigues em "O que É Bom em Segredo É Melhor em Público".
Agora é a vez de Tchecov. E para o liquidificador dos Fodidos lá vão as peças "O Jardim das Cerejeiras", "A Gaivota", "Tio Vânia", "As Três Irmãs", além dos contos "Humanidade" e "A Dama do Cachorrinho". Abujamra diz que, com ajuda de Marcelo Almada, que faz a pesquisa dramatúrgica, tenta preservar a essência das peças, das histórias sobre a aristocracia decadente russa engolindo desespero velado.
Nessas histórias, "o tédio é infinito", diz o diretor. "Mas não devemos esquecer que, antes de ser um dos maiores dramaturgos do mundo, Tchecov era um médico. Ele não poderia nunca dizer para um doente terminal que a morte estava próxima", divaga.
É da esperança dos personagens de Tchecov que Abujamra fala. Finalmente, encontram-se no mesmo palco: Olga, Macha e Irina, as três irmãs fadadas a desejar uma vida em Moscou; Tio Vânia, repensando uma vida desperdiçada; e Liuba, de "O Jardim das Cerejeiras", amargurando toda sua impotência diante do leilão de suas terras, berço da família. São todos personagens que, para Abujamra, prendem-se a um ideal de felicidade. "As três irmãs acreditam que, saindo de sua pequena cidade e indo para Moscou, seriam felizes. Mas nunca chegam a ir para Moscou. "Tio Vânia", "O Jardim das Cerejeiras" e "A Gaivota" são sempre explosões de tristeza, mas trazem a esperança de alguma coisa. Para o autor, a vida não pode ser vazia. Ou sabemos para o que se vive ou tudo não passa de tolice inútil."
A experiência não resulta em uma trama única e linear, mas há a preocupação de manter a essência de cada caco do mosaico. "Meyerhold [o diretor] sempre dizia que se deveria pôr em cena, ao mesmo tempo, todas as cenas que se queira do mesmo autor. Essa é uma experiência onde a linearidade não existe, e a alma Tchecov está presente o tempo todo."

TCHECOV E A HUMANIDADE
Onde:
Teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650, tel: 5573-3774)
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Quanto: R$ 10


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