São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

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Crítica/artes plásticas

Brasil e Japão dialogam em mostra

Exposição no MAM, com 140 obras de 21 brasileiros e 18 japoneses, traz panorama do que melhor se tem feito nos países

Reprodução
Trabalho de Leonilson (1957-1993), que, na exposição do MAM, estará ao lado de Ryoko Aoki


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de culturas e histórias tão distintas, em se tratando de arte contemporânea, Brasil e Japão têm muito em comum, como se pode observar na mostra "Quando Vidas se Tornam Forma: Diálogo com o Futuro - Brasil / Japão", em cartaz no Museu de
Arte Moderna de São Paulo. Organizada por Yuko Hasegawa, curadora do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio, a mostra reúne 140 obras de 21 brasileiros e 18 japoneses, em geral nomes com grande repercussão em seus próprios países, mas com restrita circulação em seu país oposto, utilizando aqui esse termo apenas como referência geográfica.
De maneira um tanto congestionada, as obras expostas conseguem, de fato, realizar o que o título da mostra propõe: diálogo. E, nisso, a curadora foi bastante arrojada. Na primeira sala da exposição, por exemplo, aos misturar na mesma parede vários trabalhos de Leonilson (1957-1993) e de Ryoko Aoki, com materiais similares, desenhos no mesmo tipo de traçado irregular e poética singela, os dois se tornam como que autores de uma só obra.
Já ao colocar, lado a lado, artistas que trabalham com materiais ou propostas similares, a curadora assume certo risco em realizar apenas aproximações formais, o que ocorre com Cildo Meireles e suas notas de "Zero Dólar" (1978-84) ao lado das imitações de notas de 1.000 ienes de Gempei Akasegawa, obra de 1963.
Em outros casos, essas aproximações tornam-se bastante inesperadas, como quando a imensa fotografia de Lucia Koch, "tetrapac", do interior de uma embalagem, é disposta ao lado de pequenos sacos de comida "fast food" que, recortados, criam delicadas árvores, obra de Yuken Teruya.
Em todas essas obras, a proposta curatorial se torna coerente: mostrar como objetos cotidianos são transformados em objetos artísticos por artistas nos dois países. Para tanto, Hasegawa não foi modesta e parafraseou a histórica "Quando Atitude se Torna Forma" (1969), de Harald Szeemann (1933-2005). Com 70 artistas, entre eles Joseph Beuys, Szeemann colocou a performance e a arte conceitual no campo institucional de forma inquestionável, criando para muitos a mais importante exposição do pós-guerra.
Já na proposta de Hasegawa, um problema da mostra é a amplidão que a noção de vida adquiriu, diminuindo com isso a intensidade dos trabalhos mais radicais, como a inclusão de objetos de design e moda (irmãos Campana, Issey Miyake, e outros) em sala própria, próximos aos radicais "Parangolés", de Hélio Oiticica, ou das fotografias do vestido elétrico de Atsuko Tanaka.
Não que o design não possa estar numa mostra de arte, mas quando a própria curadora os isola em uma sala única, ela diminui os diálogos. Essa questão já não ocorre com os arquitetos (Lina Bo Bardi, Shigeru Ban e Kazuyo Sejima), com obras bastante integradas à mostra.
Entretanto, como um panorama da produção nos dois países, a curadora conseguiu não só encontrar um bom denominador comum, como dar conta de apresentar boa parte do que melhor se tem feito nos dois países nas últimas décadas.


QUANDO VIDAS SE TORNAM FORMA: DIÁLOGO COM O FUTURO - BRASIL/ JAPÃO
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 22/6
Onde: MAM-SP (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 5085-1300)
Quanto: R$ 5
Avaliação: bom


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