Em mostra individual, Ester Grinspum contrasta transparências e opacidades

A artista expõe quatro novas esculturas feitas em vidro e alumínio e quatro obras de prata sobre papel a partir de hoje na galeria Marília Razuk

Rômulo Fialdini/Divulgação

Escultura sem título de Ester Grinspum, na Marília Razuk

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma esfera de alumínio abraça outra de vidro. São lentes desiguais para o mundo de Ester Grinspum, que tenta enlaçar opaco e transparente na série de esculturas que mostra na galeria Marília Razuk. "É o mundo refletido e o mundo visto através da obra", descreve Grinspum, 53.
Não fosse o título do trabalho -e só esse tem nome-, seria fácil resumir essas obras como exercícios formais, exploração de cheios, vazios e reflexos. Mas "O Abraço que Você me Deu" parece entregar o jogo. De uma polidez quase agressiva, amontoados de brilho intenso quebrados pelo contorno do metal fosco, são esculturas que elevam a forma à máxima potência. Mas não escondem uma segunda camada.
Nas esferas vazias de vidro, nos vasos, bacias e garrafas existe um desejo de união. Grinspum mostra aqui um lado sentimental inédito, uma junção de materiais talvez mínima demais, breve como aquele abraço esquecido no pretérito. É o globo de ouro diminuto em cima de uma esfera transparente; o aro de prata no fundo de uma bacia de alumínio fosco; o cilindro de vidro, quase fálico, que parece transbordar de sua base metálica.
Grinspum orquestra uma série de quase toques, encontros entre formas que não se misturam, uma sempre mais nobre que a outra, a raridade contraposta ao banal e ao prosaico. Nas obras em papel, em que alfineta tachas de prata sobre folhas brancas, ela parece atualizar o que aprendeu com Mira Schendel e sua obsessão pelo plano do papel. Se Schendel fazia linhas solitárias sobre o papel transparente, Grinspum quer a penetração de uma forma sólida na superfície branca. "É uma relação do papel com a prata", diz Grinspum. "Um desenho que sai para o mundo."