São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2011

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Artista explora simbologia judaica em SP

Mostra no Centro da Cultura Judaica parte de imersão de Maurício Ianês na prática ortodoxa entre 2003 e 2006

Performances e ritual de hasteamento de bandeiras compõe "Emet", que começa hoje e vai até julho

Carlos Cecconello/Folhapress
Ianês prepara a instalação "Khora", em seu ateliê, em SP

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

O que faz de um homem um judeu? É possível tornar-se judeu? A multiplicidade de respostas não cabe nessas linhas. O fato é que, entre 2003 e 2006, o artista Maurício Ianês entrou de cabeça num período de prática ortodoxa dos preceitos judaicos.
Na época, foi visto com estranheza pelos amigos, que não conseguiam entender o "mergulho" religioso de um homem que sempre transitou entre o meio da moda, a vida noturna e as galerias.
Em sua primeira viagem a Israel, em 2004, ia "do muro [das lamentações] à sinagoga, da sinagoga ao muro".
Estava imerso. Hoje, embora tenha abandonado a prática religiosa corrente -cortou a barba, voltou a fumar, já não vai à sinagoga-, o judaísmo, enquanto "condição", segue central em sua reflexão.
O artista foi agora convidado a desenvolver um projeto para o Centro da Cultura Judaica. O resultado é "Emet: do Sopro ao Silêncio", série de eventos que começa hoje e vai até o fim de julho.
"Sabia que o Maurício estava atravessado por referências à cultura judaica. Minha única vontade foi a de convidá-lo a encará-las", diz Benjamin Seroussi, responsável pela programação do CCJ.
Ianês, por sua vez, diz que tentou abraçar questões centrais do pensamento judaico, mas pela via da palavra, do símbolo -a linguagem em sua complexidade. Paul Celan, Derrida e Wittgenstein foram alguns dos pensadores "convocados".
"Não se trata de uma exposição no sentido tradicional, mas de uma espécie de residência artística", explica o artista, que em 2008 "morou" 13 dias na Bienal de São Paulo, dependendo de doações para comer e se vestir.
Para a empreitada, customizou a entrada do centro com um papel de parede onde se leem as palavras "o nome e o inominável" (no judaísmo, Deus tem 11 nomes, mas não pode ser nomeado), criou um ritual de hasteamento de bandeiras que dialogam com a de Israel e fica, de quarta à sexta, na biblioteca trabalhando e conversando com o público.
Finalmente, todo sábado, às 16h (à exceção deste, por conta do feriado), promove uma performance usando vídeo, som destorcido e o próprio corpo para contornar os hiatos entre a voz e o silêncio.
Se é a linguagem que constrói o mundo, ela pode ser desconstruída e reconstruída. Aí, talvez, more o sagrado -o da arte e o de Ianês.

EMET

QUANDO abre hoje, às 20h; de ter. a sáb., das 12h às 20h30, dom., das 11h às 19h; performances sáb., às 16h; até 30/7
ONDE Centro da Cultura Judaica (r. Oscar Freire, 2.500, tel. 3065-4333)
QUANTO grátis


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