São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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ARTES CÊNICAS

Performer inaugura festival com "A Cada Dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e Já Estarmos Mortos"

Marcelo Gabriel dança alienação juvenil

Divulgação
O performer mineiro Marcelo Gabriel, que mostra a terceira parte de sua tetralogia "Danças do Abismo' no Teatro do Centro da Terra


ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Marcelo Gabriel, o performer mineiro que transita sem vínculos definitivos por dança, teatro e show musical, está de volta a São Paulo para apresentar sua nova criação, "A Cada Dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e Já Estarmos Mortos". A peça, inédita na capital paulista, inaugura o 1º Circuito Centro da Terra de Artes Cênicas, no Teatro do Centro da Terra.
"A Cada Dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e Já Estarmos Mortos" é o terceiro espetáculo da tetralogia "Danças do Abismo", que Gabriel lançou em 2000, com "Satã, a Cortesã de Deus". Depois de abordar, nas criações anteriores, temas como a violência enfrentada pelas mulheres e o aniquilamento das nações indígenas, Gabriel enfoca, desta vez, a alienação dos jovens brasileiros.
"Não quero generalizar. Mas percebo que a massa da nova geração é muito despolitizada. Nos anos 60 e 70, os jovens tinham uma postura combativa interessante e criativa. Já a minha geração não fez muita coisa, enquanto a atual mistura o sentimento de descrença a uma rebeldia maquiada, que faz da pastilha de ecstasy e do piercing os supostos canais para mudar as coisas", avalia Gabriel, 31, esclarecendo que não pretende tecer juízos de valor nem incorrer no jogo dialético.
"O que tento fazer é entender este país caótico. Escolho meus temas por meio de constatações reais, e por isso os efeitos arrasadores da globalização sobre o Terceiro Mundo acabam sendo um viés desse novo espetáculo", diz.
Desde 1987, quando fundou em Belo Horizonte a Companhia de Dança Burra, cujo nome transmitia sua rejeição ao intelectualismo protocolar do meio artístico, Gabriel vem se destacando como um solista impertinente e provocador. Correndo o risco de ser ele mesmo, vem se mantendo distante de filiações oportunistas para desenvolver um trabalho que, mesmo alternando acertos e erros, lhe confere um status cênico particular.
No momento, Gabriel considera superada a fase em que tentava desconstruir técnicas e estéticas acadêmicas, como o balé clássico. "Minha partitura agora é a energia física e mental", afirma, esclarecendo que a prática da ioga, incorporada recentemente, lhe fez descobrir novas qualidades no movimento corporal.
Autor integral de seus espetáculos, nos quais sua assinatura vai da coreografia à concepção dos figurinos e da trilha sonora, Gabriel continua em busca de representações anti-convencionais. Abandonou radicalismos como atear fogo ao próprio corpo, mas a disposição experimental ainda é sua força motriz.


A CADA DIA NOS ALEGRAMOS DE CONTINUAR VIVENDO E JÁ ESTARMOS MORTOS. Com Marcelo Gabriel. Quando: de hoje a sáb., às 21h, e dom., às 19h. Onde: Teatro do Centro da Terra (r. Piracuama, 19, Sumaré; tel. 3675-1595). Quanto: R$ 20. Patrocinador: Petrobras.



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