São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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"Você" leva butô e memórias ao palco

Sob direção do japonês Tadashi Endo, Ana Cristina Colla faz seu primeiro solo

Atriz faz espetáculo sem palavras e representa apenas com o corpo poemas sobre a passagem do tempo, em três atos

Filipe Redondo/Folha Imagem
O diretor Tadashi Endo e a atriz Ana Cristina Colla

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pense num corpo que eleva à intensidade máxima o movimento de seus músculos. Agora imagine que esse mesmo corpo está parado. Pode parecer um paradoxo, mas é o que Ana Cristina Colla propõe e faz em um dos atos de seu espetáculo "Você", em cartaz na cidade.
E é a própria atriz do Grupo Lume, fundado em Campinas em meados da década de 80, quem explica: "Eu trabalho a construção de uma imagem na musculatura. É algo muito intenso". Ana Cristina apresenta-se sob direção do artista japonês Tadashi Endo.
Uma das figuras-chave na difusão do butô (leia ao lado), Endo, 62, conheceu e teve estreita colaboração com um de seus inventores, Kazuo Ohno. E, desde 2003, quando dirigiu "Shi-Zen, 7 Cuias", trabalha com o Lume. Em conversa pelo telefone desde a Alemanha, onde mora, Endo falou à Folha sobre como desenvolveu esse novo trabalho no Brasil.
"O corpo é como um pote vazio. O que queremos colocar lá dentro?". Esta pergunta de Endo serviu de mote para o diálogo com Ana Cristina Colla -que, diga-se, aconteceu em inglês, português, japonês, alemão e, é claro, na linguagem do corpo.
De início, o trabalho foi com as palavras. Ana Cristina mostrou a Endo uma coleção de poemas seus que tratavam de suas memórias. "A cada dia a gente pegava um poema, e ele tentou conectá-los às suas próprias memórias", diz ela. A dupla foi então dilapidando as palavras de Ana Cristina até chegar às ideias essenciais.
"Aí esquecemos os poemas e partimos para a prática", diz a atriz, ecoando a voz do diretor.
É que, para ele, "o mais importante quando você fala de um sentimento é entender o que ele é, de onde ele vem, e aí transformar uma coisa abstrata em algo visual e concreto".
Essa tradução da palavra em gesto cênico não se deu sem um árduo trabalho corporal, conta Endo. E o resultado de muitos exercícios físicos, conversas e repetições são os três atos mudos de "Você".
Futuro, presente e passado são encenados por Ana Cristina, que representa no palco suas percepções da velhice, da vida adulta e da infância, inspirada nas modulações orientais do tempo -jo, ha, kyu: lento, rápido e muito rápido.

Alma em cena
Mas o que é afinal o butô e por que ele é tão difundido em lugares diversos e distantes do Japão? Depois de anos se apresentando e trabalhando pelo mundo, Endo arrisca a resposta: "Mais do que um estilo ou técnica ele está na raíz do próprio espírito da dança. As pessoas perceberam isso".
E resume: "O que você tem que tentar mostrar é a sua alma". É o que o corpo de Ana Cristina Colla, através das suas memórias, tenta fazer.


VOCÊ

Quando: qui., sex. e sáb., às 20h30, dom., às 19h; até 11/10
Onde: teatro Crisantempo (r. Fidalga, 521; tel. 3819-2287)
Quanto: R$ 15 a R$ 30
Classificação: 16 anos




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