São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

Próximo Texto | Índice

História a céu aberto

Extinto presídio da Carandiru dá lugar a instalação de Siron Francisco e está aberto para visitação

Jorge Araújo- 20.set.2002/Folha Imagem
Visitantes caminham pelo pavilhão 2 do Complexo do Carandiru, entre instalação do artista plástico Siron Francisco


MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A função da visita é assumidamente educativa, e após alguns minutos na Casa de Detenção Flamínio Fávero é muito difícil imaginar que pudesse ser de outra maneira. O Complexo do Carandiru está agora aberto ao público, para ajudar a contar uma importante parte da história da cidade.
O passeio pode ser feito em dois de seus pavilhões, os de número 2 e 7. No primeiro (no lado esquerdo de quem faz a entrada pelo portão principal) há, além das celas, uma instalação do artista brasileiro Siron Franco. No pátio, Siron espalhou 111 portas usadas antes para manter os presos em seus compartimentos.
Sua intenção foi lembrar o massacre ocorrido ali em 1992, quando, durante uma rebelião, 111 homens que estavam encarcerados morreram após a invasão do lugar pela Polícia Militar. As portas foram recolhidas por Siron no pavilhão 5.
Muitas são as imagens do Carandiru, e a visitação serve para aproximar o público dos fatos, mesmo que isso não o afaste das lendas que circulam sobre o presídio, suas celas, seus ocupantes.
Desde que foi inaugurado, em 1956, o Carandiru foi o cenário de dezenas de acontecimentos traumáticos para a cidade, o que terminou marcando o imaginário dos moradores de São Paulo.
Em agosto de 1971 foi decretada uma quarentena no presídio em consequência de uma epidemia de gripe entre os detentos. Todas as visitas, à época, foram suspensas.
E o ritmo das trágedias, com os anos, só se intensificou. Em fevereiro deste ano, presos no complexo do Carandiru promoveram uma rebelião considerada a maior do país. No mesmo instante, outros 29 presídios fizeram o mesmo, sob a orientação do PCC (Primeiro Comando da Capital), um grupo organizado de criminosos.
Um instantâneo desses fatos pode ser também visto no pavilhão 2, em um pequeno e improvisado museu. Nele são mostrados objetos do uso cotidiano dos presos. O acervo é composto então de facas, balanças para pesar drogas ou celulares apreendidos.
Mas não há apenas a ilegalidade. No mesmo espaço estão ainda quadros ou objetos artesanais produzidos pelos detentos, além de algumas fotos, nas quais tatuagens são mostradas.
As visitas podem ser feitas com monitores das secretarias da Cultura e da Administração Penitenciária (elas acontecem entre 10h e 16h, de terça-feira a domingo), e são eles que, seguindo para o lado direito do complexo, levam o público para a "verdadeira prisão".
O pavilhão 7 é considerado o mais "real", porque não sofreu nenhum tipo de intervenção. O 2, além da obra de Siron Franco, foi recentemente usado pelo cineasta Hector Babenco para as filmagens de "Estação Carandiru", baseado na obra do médico Drauzio Varella.
Esse realismo significa poder ver, penetrar no espaço físico no qual os condenados estavam confinados. Não é exatamente um belo passeio, mas uma visita ao Carandiru é uma mostra concreta, e assim educacional, do que uma sociedade deve evitar.


VISITA AO CARANDIRU - de terça-feira a domingo, entre 10h e 16h. Onde: Casa de Detenção Flamínio Fávero - Carandiru (av. Cruzeiro do Sul, ao lado da Estação Carandiru do Metrô, zona norte). Quanto: entrada franca.


Próximo Texto: Programação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.