São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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"A FORMA E A IMAGEM TÉCNICA NA ARTE DO RIO DE JANEIRO: 1950-1975"

Exposição está em cartaz até 5/10

Paço mostra experimentalismo carioca

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

A mostra sobre arte e tecnologia carioca é descuidada. O Paço reúne obras de interesse histórico, mas abandona o conjunto por falta de critérios expositivos.
O título designa erroneamente o acervo reunido. Chama-se "A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975", embora tenha obras de até 1999. O texto introdutório é vago e não justifica a extensão do período anunciado. A fotografia é descrita como modelo da caracterização do uso da tecnologia no âmbito artístico.
Apesar da amplitude temática, a curadoria apresenta exemplos da superação das mídias artísticas tradicionais, como a pintura. O experimentalismo técnico prova-se característico entre cariocas, como defendia a Nova Objetividade Brasileira nos anos 60.
A sequência de abertura explora três usos da fotografia. A montagem surrealista de Athos Bulcão adentra a Guerra Fria espalhando irracionalidade hollywoodiana entre 1952 e 53. O registro da performance "Aos Poucos" (1974), de Anna Maria Maiolino, retrata uma mulher que tem os olhos sob uma venda que escorrega da testa ao queixo. A apropriação de cartões-postais serve de base para um arranjo geométrico na colagem de Aloísio Magalhães, em 1977.
Outro foco de atenção está nas engrenagens. No meio do salão, posta-se a "Hemorragia IV" (1986), de Maurício Salgueiro. A redemocratização brasileira é saudada por um paralelepípedo vibratório de metal por cujas laterais escorre uma resina sanguínea, aparada na base por uma calha de coagulação. Adiante, um "Cinecromático" (1960) e dois objetos cinéticos, de Palatnik, representam a vertente lúdica do mecanismo.
As duas "Esculturas Luminosas" (1964), de Maurício Nogueira Lima, colocam em evidência a internacionalização do diálogo construtivo. Lâmpadas fluorescentes paralelas servem de medida para os objetos.
A secura dos filmes dos anos 70 é reencontrada em cabines de exibição. Há exemplares de Antônio Manuel ("Semiótica", 1975), Anna Maria Maiolino ("Y", 1974), Ivens Machado, Letícia Parente, Lygia Pape e Sônia Andrade.
Contudo as pesquisas mais recentes não justificam a inclusão na mostra coletiva. "Recortes" (1994/98), de Ana Vitória Mussi, e "Conduit" (1999), de Sonia Andrade, são experimentos escolares das mídias apresentadas, impressão e videoinstalação.
O Paço repete a dificuldade de lidar com a própria arquitetura. O arranjo espacial é confuso, e o solo, permeado de fitas amarelas que isolam a fiação das obras. Há interferência sonora constante de exposição paralela.
A Forma e a Imagem Técnica na Arte do Rio de Janeiro: 1950-1975
   Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Butantã, região oeste, tel. 3814-4832) Quando: de ter. a sex., das 11h30 às 18h30; sáb. e dom., das 12h30 às 17h30; até 5/10 Quanto: entrada franca


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