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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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ARTE ELETRÔNICA

Edição do Videobrasil destaca produção do país

Líbano busca interrogar a sua história em filmes

Divulgação
Cena de "Ashura", sobre ritual xiita que recorda a morte de Hussein, no século 7º; filme é destaque na programação do Videobrasil


PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Neste momento em que o Oriente Médio atravessa um dos momentos mais críticos de sua história, com o conflito no Iraque e nos territórios palestinos em seu auge, o 14º Festival de Arte Eletrônica se propõe a apresentar a produção libanesa recente aos brasileiros no Sesc Pompéia.
Destaque nesta edição, o Líbano aparece como um microcosmo onde questões centrais da região -sobretudo o impacto da ocupação israelense- aparecem em documentários que revelam abordagens diversificadas sobre a guerra civil (1975-90), a ocupação do sul (até 2000) e a conquista de territórios palestinos (após 1948).
"Narrativas Possíveis - Práticas Artísticas no Líbano" apresenta documentários que expressam as esperanças e as frustrações de gerações que vivenciaram períodos-chave dessa história. Sob a curadoria do videoartista Akram Zaatari, um dos criadores da Fundação da Imagem Árabe (com fotos de 1860 a 1990), essa exposição de arte contemporânea reúne instalações, performances e palestras com o objetivo de ressaltar identidades e percepções libanesas.
"Nightfall" (de Mohamad Soueid) mostra a cena libanesa depois que o sol se põe. Num bar, a discussão gira em torno da cor dos olhos do presidente Gamal Abdel Nasser, cujo funeral foi o maior da história moderna do Egito, em 1970. Um libanês faz seus votos pela Palestina "em nome de Deus, do Fatah [movimento político de Iasser Arafat], da revolução popular". "A Palestina era o ponto de partida para a revolução no mundo árabe", complementa, entre imagens acompanhadas de hinos heróicos.
"Precisamos nos perguntar por que aderimos à resistência palestina", diz um personagem que dá voz a um dos questionamentos do filme e que ganha força às vésperas do aniversário da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), em 28/9.
"All Is Well on the Border" (de Zaatari) fala do que se descreve como "milagre" do fim da ocupação do sul, em 2000, com destaque para o relato de ex-prisioneiros de consciência. A ênfase em "Khiam" (de Joana Hadjithomas e Khalil Joreige) é a mesma.
Já "Ashura" (de Jalal Toufic) mostra o ritual xiita que recorda o último dia dos eventos dramáticos do final do século 7º, que levaram à morte de Hussein. Neto do profeta Muhammad, ele e cerca de 70 aliados enfrentaram 4.000 soldados perto da cidade de Karbala (Iraque). Parte dos xiitas relembra essa tragédia através da autoflagelação. O documentário traz análises de especialistas sobre a lamentação, a elegia e a oração.
Além da mostra "Narrativas Possíveis" (com legendas só em inglês), nos próximos 28 dias, o evento oferece vídeos, instalações e performances do chamado circuito sul, que inclui África (com ênfase em Egito, África do Sul, Angola e Moçambique), Índia, Caribe, China, Sérvia e Hungria.
Como se percebe, o conceito aplicado à mostra não se pauta pelo referencial geográfico e privilegia a produção fora do eixo hegemônico. "11 de Septiembre", de Claudia Abughosh, divide a tela, para mostrar, lado a lado, o 11 de Setembro chileno (de 1973) e o norte-americano (de 2001).
Outra iniciativa que se relaciona à situação no Oriente Médio e que oferece visão mais positiva do que a apresentada no festival é o documentário "A Jornada de Abraão sob o Signo da Tolerância" (de Douglas Salgado).


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

14º VIDEOBRASIL - FESTIVAL INTERNACIONAL DE ARTE ELETRÔNICA - Abertura da exposição "Narrativas Possíveis - Práticas Artísticas no Líbano", lançamento do DVD "Nomadismos" e homenagem a Waly Salomão (1943-2003). Quando: hoje às 20h. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 3831-7700). Quanto: grátis. Informações: www.videobrasil.org.br.



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