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ARTE ELETRÔNICA
Edição do Videobrasil destaca produção do país
Líbano busca interrogar a sua história em filmes
Divulgação
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Cena de "Ashura", sobre ritual xiita que recorda a morte de Hussein, no século 7º; filme é destaque na programação do Videobrasil |
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
Neste momento em que o
Oriente Médio atravessa um
dos momentos mais críticos de
sua história, com o conflito no
Iraque e nos territórios palestinos
em seu auge, o 14º Festival de Arte
Eletrônica se propõe a apresentar
a produção libanesa recente aos
brasileiros no Sesc Pompéia.
Destaque nesta edição, o Líbano
aparece como um microcosmo
onde questões centrais da região
-sobretudo o impacto da ocupação israelense- aparecem em
documentários que revelam
abordagens diversificadas sobre a
guerra civil (1975-90), a ocupação
do sul (até 2000) e a conquista de
territórios palestinos (após 1948).
"Narrativas Possíveis - Práticas
Artísticas no Líbano" apresenta
documentários que expressam as
esperanças e as frustrações de gerações que vivenciaram períodos-chave dessa história. Sob a curadoria do videoartista Akram Zaatari, um dos criadores da Fundação da Imagem Árabe (com fotos
de 1860 a 1990), essa exposição de
arte contemporânea reúne instalações, performances e palestras
com o objetivo de ressaltar identidades e percepções libanesas.
"Nightfall" (de Mohamad
Soueid) mostra a cena libanesa
depois que o sol se põe. Num bar,
a discussão gira em torno da cor
dos olhos do presidente Gamal
Abdel Nasser, cujo funeral foi o
maior da história moderna do
Egito, em 1970. Um libanês faz
seus votos pela Palestina "em nome de Deus, do Fatah [movimento político de Iasser Arafat], da revolução popular". "A Palestina
era o ponto de partida para a revolução no mundo árabe", complementa, entre imagens acompanhadas de hinos heróicos.
"Precisamos nos perguntar por
que aderimos à resistência palestina", diz um personagem que dá
voz a um dos questionamentos
do filme e que ganha força às vésperas do aniversário da Intifada
(levante palestino contra a ocupação israelense), em 28/9.
"All Is Well on the Border" (de
Zaatari) fala do que se descreve
como "milagre" do fim da ocupação do sul, em 2000, com destaque para o relato de ex-prisioneiros de consciência. A ênfase em
"Khiam" (de Joana Hadjithomas
e Khalil Joreige) é a mesma.
Já "Ashura" (de Jalal Toufic)
mostra o ritual xiita que recorda o
último dia dos eventos dramáticos do final do século 7º, que levaram à morte de Hussein. Neto do
profeta Muhammad, ele e cerca
de 70 aliados enfrentaram 4.000
soldados perto da cidade de Karbala (Iraque). Parte dos xiitas relembra essa tragédia através da
autoflagelação. O documentário
traz análises de especialistas sobre
a lamentação, a elegia e a oração.
Além da mostra "Narrativas
Possíveis" (com legendas só em
inglês), nos próximos 28 dias, o
evento oferece vídeos, instalações
e performances do chamado circuito sul, que inclui África (com
ênfase em Egito, África do Sul,
Angola e Moçambique), Índia,
Caribe, China, Sérvia e Hungria.
Como se percebe, o conceito
aplicado à mostra não se pauta
pelo referencial geográfico e privilegia a produção fora do eixo hegemônico. "11 de Septiembre", de
Claudia Abughosh, divide a tela,
para mostrar, lado a lado, o 11 de
Setembro chileno (de 1973) e o
norte-americano (de 2001).
Outra iniciativa que se relaciona
à situação no Oriente Médio e que
oferece visão mais positiva do que
a apresentada no festival é o documentário "A Jornada de Abraão
sob o Signo da Tolerância" (de
Douglas Salgado).
Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP
14º VIDEOBRASIL - FESTIVAL
INTERNACIONAL DE ARTE
ELETRÔNICA - Abertura da exposição
"Narrativas Possíveis - Práticas Artísticas
no Líbano", lançamento do DVD
"Nomadismos" e homenagem a Waly
Salomão (1943-2003). Quando: hoje às
20h. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93,
tel. 3831-7700). Quanto: grátis.
Informações: www.videobrasil.org.br.
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