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Maravilhamento da obra de Fellini aparece em retrospectiva no CCBB
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A obra densamente povoada de
Fellini aporta no Centro Cultural
Banco do Brasil em "Figúrati - Retrospectiva Federico Fellini".
"Figúrati!" é uma expressão italiana de maravilhamento, cujo
sentido se mescla à palavra "figura" (em italiano: "aspecto", "pessoa" ou "símbolo"). Fellini gostava de dizer que sua capacidade de
se maravilhar não tinha fim. Fascinar e se deixar fascinar por essas
figuras era uma condição "sine
qua non" para ele: o método de
criação felliniano vai se reduzir
cada vez mais, ao longo de sua
obra, à criação de uma atmosfera
ideal para essa mútua sedução.
Muito já se falou do "instinto espetacular" em Fellini. Seus primeiros filmes, "Mulheres e Luzes"
(1950) e "Abismo de um Sonho"
(1952), acompanham a ascensão
de jovens espectadoras aficionadas ao mundo do espetáculo. Em
suas primeiras obras-primas, "La
Strada" (1954) e "Noites de Cabíria"(1957), Giulietta Masina encarna o espírito infantil diante da
sordidez do mundo adulto, cumprindo um duro aprendizado: o
mundo do espetáculo e o espetáculo do mundo revelam-se para
ela em toda sua crueldade.
Teatro de revista ("Mulheres e
Luzes"), fotonovela ("Abismo de
um Sonho"), circo ("La Strada"):
o antídoto contra a impostura da
estética fascista, Fellini descobriu
enfurnado, durante a guerra, em
casas de teatro de variedades, na
estética do espetáculo popular.
Ele fez de palhaços e vedetes de
quinta seus companheiros de
front, bastiões de uma resistência
indolente em uma Itália tão passiva e licenciosa quanto a de
"Amarcord" (1973).
A degradação dessa cultura popular na moderna "sociedade de
espetáculo" italiana já era um
pressentimento em "A Doce Vida". Mas Fellini não deixava de
assumir, em "Ginger e Fred"
(1986), esse estranho parentesco
entre seu "cinema de atrações" e a
televisão, como se a degradação
de seu universo nas variedades televisivas lhe inspirasse um sentimento tragicômico, de um patetismo que ainda o maravilhava.
FIGÚRATI - RETROSPECTIVA
FEDERICO FELLINI. Onde: Centro
Cultural Banco do Brasil (r. Álvares
Penteado, 112, tel. 3113-3651). Quando:
de ter. a dom., até 3/10. Quanto: cinema,
R$ 4; vídeo, entrada franca
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