São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Com suas divas no elenco, Almodóvar busca compreensão da alma feminina

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

No futuro, quando sua obra for vista em conjunto, Pedro Almodóvar provavelmente será conhecido como "o homem que amava as mulheres". "Volver", seu novo filme, é um dos pontos altos dessa tentativa de compreensão da alma feminina.
Três gerações de mulheres exibem sua beleza, suas dores e seus desejos no filme, ambientado em Madri e num povoado da região da Mancha.
A avó Irene, morta abraçada com o marido num incêndio, retorna como fantasma. Sua filha Raimunda vê-se às voltas com o marido bêbado e desempregado. E a adolescente Paula recebe os estilhaços dos desastres das gerações anteriores.
Há ainda Sole (Lola Dueñas), irmã solitária de Raimunda. Mas nem tudo é o que parece: supostos mortos podem estar vivos, e vice-versa.
São também três gerações de atrizes reveladas ao mundo por Almodóvar: Carmen Maura (Irene), que volta a filmar com o diretor depois de 17 anos, Penélope Cruz (Raimunda), mais linda do que nunca, e agora Yohana Cobo (Paula). O único homem em cena desaparece com dez minutos de filme. O resto é com elas.
Como sempre ocorre no cinema de Almodóvar, a trama é de um intrincado melodrama, com segredos, traições e reviravoltas dignos de uma radionovela mexicana, deslocados e transfigurados, no entanto, pela alquimia única do cineasta, que limpa o gênero de todo moralismo maniqueísta e dota generosamente seus personagens de afeto, humor e sensualidade.
Resta dizer que, dominando plenamente seus instrumentos, Almodóvar depura cada vez mais sua forma de narrar.
Não há conversa jogada fora, as elipses são precisas, o ritmo é envolvente, a cenografia e os figurinos já não se sobrepõem ao drama, a trilha sonora se integra organicamente à narrativa. Numa prova de coesão estética, o título "Volver" (tirado da canção argentina) tem vários sentidos: é a volta à província natal, é o retorno do passado, é a presença recorrente dos mortos no mundo dos vivos.
O clássico que serve aqui como referência é "Belíssima", de Visconti, de que vemos uma cena na TV, com a grande Anna Magnani, no papel da mãe que leva a filha a um teste para atrizes mirins.
Como "la" Magnani, as mulheres de Almodóvar são fortes, contraditórias, iluminadas, falíveis, humanas até o último fio de cabelo. É impossível não se apaixonar por elas.


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Direção:
Pedro Almodóvar
Quando: hoje, às 21h, no Cine Morumbi; qua., às 17h50, na Sala UOL; sáb., às 18h10, no Unibanco Arteplex 3


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