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Com suas divas no elenco, Almodóvar busca compreensão da alma feminina
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
No futuro, quando sua
obra for vista em conjunto, Pedro Almodóvar provavelmente será conhecido como "o homem que amava as mulheres". "Volver", seu
novo filme, é um dos pontos altos dessa tentativa de compreensão da alma feminina.
Três gerações de mulheres
exibem sua beleza, suas dores e
seus desejos no filme, ambientado em Madri e num povoado
da região da Mancha.
A avó Irene, morta abraçada
com o marido num incêndio,
retorna como fantasma. Sua filha Raimunda vê-se às voltas
com o marido bêbado e desempregado. E a adolescente Paula
recebe os estilhaços dos desastres das gerações anteriores.
Há ainda Sole (Lola Dueñas),
irmã solitária de Raimunda.
Mas nem tudo é o que parece:
supostos mortos podem estar
vivos, e vice-versa.
São também três gerações de
atrizes reveladas ao mundo por
Almodóvar: Carmen Maura
(Irene), que volta a filmar com
o diretor depois de 17 anos, Penélope Cruz (Raimunda), mais
linda do que nunca, e agora Yohana Cobo (Paula). O único homem em cena desaparece com
dez minutos de filme. O resto é
com elas.
Como sempre ocorre no cinema de Almodóvar, a trama é
de um intrincado melodrama,
com segredos, traições e reviravoltas dignos de uma radionovela mexicana, deslocados e
transfigurados, no entanto, pela alquimia única do cineasta,
que limpa o gênero de todo moralismo maniqueísta e dota generosamente seus personagens
de afeto, humor e sensualidade.
Resta dizer que, dominando
plenamente seus instrumentos, Almodóvar depura cada
vez mais sua forma de narrar.
Não há conversa jogada fora, as
elipses são precisas, o ritmo é
envolvente, a cenografia e os figurinos já não se sobrepõem ao
drama, a trilha sonora se integra organicamente à narrativa.
Numa prova de coesão estética, o título "Volver" (tirado da
canção argentina) tem vários
sentidos: é a volta à província
natal, é o retorno do passado, é
a presença recorrente dos mortos no mundo dos vivos.
O clássico que serve aqui como referência é "Belíssima", de
Visconti, de que vemos uma cena na TV, com a grande Anna
Magnani, no papel da mãe que
leva a filha a um teste para atrizes mirins.
Como "la" Magnani, as mulheres de Almodóvar são fortes,
contraditórias, iluminadas, falíveis, humanas até o último fio
de cabelo. É impossível não se
apaixonar por elas.
VOLVER
Direção: Pedro Almodóvar
Quando: hoje, às 21h, no Cine Morumbi; qua., às 17h50, na Sala UOL; sáb., às 18h10, no Unibanco Arteplex 3
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