Fotos Divulgação

Cena do filme "Harry Sally - Feito Um para o Outro", de Rob Reiner

BIA ABRAMO
especial para a Folha

Alfred Hitchcock costumava fazer "pontas"em seus próprios filmes. Steven Spielberg gosta de enxertar homenagens a amigos e diretores famosos. Martin Scorsese não apenas imita Hitchcock fazendo aparições nos filmes que dirige como dá um jeito de arrumar pequenos papéis para seus pais.
Nomes de personagem, datas, lugares que aparecem em filmes cult são citados a torto e a direito por seguidores.
É assim que roteiristas, atores e diretores de Hollywood se divertem e, de quebra, fornecem assunto para conversas de bar e para colecionadores obsessivos de informação. Um deles, Bill Givens, colaborador de revistas norte-americanas como a "Premiere" e "Entertainment Weekly", entre outras, compilou uma série de piadas, gags, brincadeiras, referências, citações e reuniu no livro "Reel Gags Jokes, Sight Gags e Director's Tricks From Your Favorite Movies".
Para além de impressionar os amigos com uma série de curiosidades engraçadas, os fatos reunidos no livro mostram todo o rol de pequenos pecados que move a indústria de cinema.
O nepotismo é um deles. Por exemplo, na famosíssima cena de "Harry e Sally" em que Meg Ryan está em uma lanchonete e imita os gemidos e gritos de uma mulher tendo um orgasmo, a freguesa que pede ao garçom "quero o mesmo que ela" é Estelle Reiner, mãe do diretor Rob Reiner.
Scorsese usa os pais: a mãe, Catherine, começou em um curta de 1965 do diretor e já fez pontas em filmes como "O Rei da Comédia" (a mãe do personagem de Robert De Niro), "Os Bons Companheiros" (novamente como mãe, desta vez de Tommy, interpretado por Joe Pesci); o pai, Charles, também aparece em "A Cor do Dinheiro" e "Touro Indomável", entre outros.
O filho de Oliver Stone, Sean, trabalha desde bebê: sua primeira participação em filmes do pai foi como o filho de Boyles (James Woods) em "Salvador - Martírio de um Povo".
Os caçadores de símbolos e referências também vão encontrar um ótimo material para as teorias mais absurdas. Não foi por obra e graça do acaso que François Truffaut incluiu um exemplar do "Cahiers du Cinema", cuja capa exibe uma foto de "O Acossado" (roteiro de Truffaut e direção de Jean Luc Godard), entre livros que são incinerados em uma cena de "Fahrenheit 451".
O diretor John Landis diz que a explicação para o fato de a frase "See you next wednesday" (vejo você na próxima quarta-feira) aparecer em vários de seus filmes -em "Os Irmãos Cara de Pau" aparece como nome de um filme, atrás de cujo cartaz se esconde um policial; no episódio dirigido por Landis na versão cinematográfica de "Twilight Zone", a frase é proferida em alemão quando o personagem de Vic Morrow está sendo atacado pelos nazistas é que a frase era o título de seu primeiro roteiro, mas há quem diga que é uma homenagem a "2001 Uma Odisséia no Espaço". No filme de Stanley Kubrick, é uma frase do diálogo entre o astronauta e a família.
Além desta marca registrada, Landis é notório por convidar diretores amigos para fazerem pequenos papéis em seus filmes. Em "Um Tira da Pesada 2", a lista, imensa, tem nomes famosos como George Lucas, Joe Dante, Barbet Schroeder e o especialista em efeitos especiais de monstro Ray Harryhausen.
Claro que há uma lista completa das aparições de Hitchcock -a solução mais engenhosa é a de "Lifeboat". Como o filme se passa inteiramente num bote salva-vidas, o truque foi fazer um personagem ler um jornal no qual há uma foto do diretor.
Não dá para esperar muito rigor: "Reel Gags" é um livro diletante para o cinéfilo idem. Ao lado de descobertas saborosas, o autor repete outras já bem conhecidas (por exemplo, a possível relação que emergiria entre o nome do computador de "2001", Hal, e a IBM, avançando-se uma letra na sequência do alfabeto) e permite-se alguns chutes. O humor, entretanto, compensa essas falhas.

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