Do mesmo diretor de "Harry & Sally", longa traz a história de dois doentes que decidem realizar seus últimos desejos

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Jack Nicholson em cena de "Antes de Partir'; ator interpreta bilionário que sofre de câncer

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Se houvesse uma medida para conferir a previsibilidade dos filmes, "Antes de Partir" receberia grau máximo. Não há um movimento da história ou um detalhe no trabalho dos atores capaz de causar algum tipo de surpresa.
O diretor Rob Reiner, que emplacou três sucessos seguidos no fim dos anos 80 ("A Princesa Prometida", "Harry & Sally" e "Louca Obsessão"), mas anda meio fora de forma, apostou todas as fichas no fato de ter Jack Nicholson e Morgan Freeman, atores de primeira grandeza, à frente do elenco.
Mas duas andorinhas, aqui, não fazem um verão.
Nicholson é o bilionário Edward Cole, que fez parte de sua fortuna construindo hospitais.
Freeman é o mecânico Carter Chambers, que abandonou os estudos para sustentar a família. Quando "Antes de Partir" começa, Cole defende calorosamente sua política hospitalar: dois pacientes por quarto. Logo depois, descobre que está com câncer em estágio avançado e, para não se contradizer, terá que compartilhar o mesmo quarto com Cole. Nasce, daí, uma óbvia amizade.
O começo do filme, de certa forma, é corajoso. Por cerca de 40 minutos, a câmera está confinada em um quarto de hospital. Amigos tardios, unidos pela desgraça, Carter e Cole elaboram uma lista de coisas que gostariam de fazer antes de morrer. Mas, infelizmente, a maior parte dos itens parece tirada de revistas esportivas ou de turismo -ainda que, algumas vezes, eles apareçam revestidos de um certo tom poético. Subir o Himalaia, por exemplo, é "testemunhar algo majestoso".

Photoshop
Quando resolvem executar seus desejos, os moribundos saltam da cama com inexplicável energia para quem está nas últimas, passando por uma dura quimioterapia. Até aí, tudo bem, licença poética.
Bem mais esquisito é perceber que algumas seqüências importantíssimas, como a conversa dos amigos no topo de uma pirâmide do Egito ou o safári na África mais parecem fotografias grosseiramente manipuladas no Photoshop, de tão artificiais.
Antes da conclusão do filme, as aventuras serão substituídas pelo que "realmente importa": os momentos redentores de cada um. Carter vai encontrar novo sentido no casamento; Cole fará as pazes com a filha.
Rob Reiner, talvez, pudesse ao menos ter trocado os papéis.
Quem sabe se Morgan Freeman fizesse o milionário rabugento e Jack Nicholson fosse o ex-mecânico, o filme ganhasse algum interesse. Pensando bem, com esse roteiro, não ia adiantar muito não.