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CINEMA
Longas e curtas presentes em retrospectiva foram analisados pelo cineasta baiano em sua "Revisão Crítica"
Eleitos e desafetos de Glauber povoam mostra
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Não só por seus filmes, mas
também por sua obra crítica,
Glauber Rocha (1939-81) iluminou de maneira radicalmente nova toda a cinematografia brasileira que o antecedeu.
Nada mais oportuno, portanto,
que, por ocasião do relançamento
de sua "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro" (editora Cosac &
Naify), de 1963, o Espaço Unibanco e a Cinemateca Brasileira tenham programado a Mostra Glauber Crítico.
Até 4 de maio, serão exibidos 16
longas-metragens e quatro curtas
que compõem um painel representativo da produção brasileira
de 1930 a meados dos anos 60.
Glauber via o cinema brasileiro
como um campo de batalha entre
progressistas e conservadores.
Defendia o artesanato e a busca de
uma linguagem brasileira contra
as ilusões industriais e a importação de modelos narrativos estrangeiros.
Vários dos filmes da mostra foram criticados pelo cineasta baiano de maneira impiedosa e frequentemente injusta. "Limite"
(30), o clássico de Mário Peixoto
que Glauber nem tinha visto, foi
rotulado por ele de obra "estetizante" e "alienada".
Outro clássico malhado por
Glauber -desta vez com mais
fundamento- foi "O Cangaceiro" (53), de Lima Barreto, considerado uma visão edulcorada e turística do sertão.
Do outro "time", o dos eleitos
de Glauber, há também representantes de peso, como "Ganga Bruta" (33), de Humberto Mauro,
que o cineasta-crítico via como
uma espécie de avô do cinema novo, e "O Grande Momento" (58),
de Roberto Santos, versão paulistana do neo-realismo italiano.
Pluralista
Estão presentes, igualmente,
marcos importantes do início do
cinema novo, como "Vidas Secas" (63), de Nelson Pereira dos
Santos, que será exibido hoje, às
21h30, no Espaço Unibanco,
"Porto das Caixas" (62), de Paulo
Cezar Saraceni, e "Os Cafajestes"
(62), de Ruy Guerra.
Essa trinca serve para mostrar
que, ao contrário do que normalmente se pensa, o cinema novo
começou muito plural, tanto em
temas como em estética. Outro
grande título do cinema novo,
"Garrincha, Alegria do Povo"
(65), abre a mostra hoje, às 19h, na
Cinemateca, e será seguido de debate com o crítico Ismail Xavier.
Um dos trunfos da retrospectiva é exibir filmes pouco vistos ultimamente, como "Osso, Amor e Papagaios" (57), de César Mêmolo e Carlos Alberto de Souza Barros, e "Bahia de Todos os Santos" (61), de Trigueirinho Neto.
O primeiro é uma sátira social inspirada no conto "A Nova Califórnia", de Lima Barreto. O segundo, uma obra engajada que antecipa em muitos aspectos o
próprio cinema novo.
Mostra Glauber Crítico
Quando: até 4 de maio
Onde: Espaço Unibanco (r. Augusta,
1.470, tel. 287-5590) e Cinemateca
Brasileira (lgo. Senador Raul Cardoso,
207, tel. 5084-2177)
Quanto: R$ 8
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