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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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CINEMA

Longas e curtas presentes em retrospectiva foram analisados pelo cineasta baiano em sua "Revisão Crítica"

Eleitos e desafetos de Glauber povoam mostra

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Não só por seus filmes, mas também por sua obra crítica, Glauber Rocha (1939-81) iluminou de maneira radicalmente nova toda a cinematografia brasileira que o antecedeu.
Nada mais oportuno, portanto, que, por ocasião do relançamento de sua "Revisão Crítica do Cinema Brasileiro" (editora Cosac & Naify), de 1963, o Espaço Unibanco e a Cinemateca Brasileira tenham programado a Mostra Glauber Crítico.
Até 4 de maio, serão exibidos 16 longas-metragens e quatro curtas que compõem um painel representativo da produção brasileira de 1930 a meados dos anos 60.
Glauber via o cinema brasileiro como um campo de batalha entre progressistas e conservadores. Defendia o artesanato e a busca de uma linguagem brasileira contra as ilusões industriais e a importação de modelos narrativos estrangeiros.
Vários dos filmes da mostra foram criticados pelo cineasta baiano de maneira impiedosa e frequentemente injusta. "Limite" (30), o clássico de Mário Peixoto que Glauber nem tinha visto, foi rotulado por ele de obra "estetizante" e "alienada".
Outro clássico malhado por Glauber -desta vez com mais fundamento- foi "O Cangaceiro" (53), de Lima Barreto, considerado uma visão edulcorada e turística do sertão.
Do outro "time", o dos eleitos de Glauber, há também representantes de peso, como "Ganga Bruta" (33), de Humberto Mauro, que o cineasta-crítico via como uma espécie de avô do cinema novo, e "O Grande Momento" (58), de Roberto Santos, versão paulistana do neo-realismo italiano.

Pluralista
Estão presentes, igualmente, marcos importantes do início do cinema novo, como "Vidas Secas" (63), de Nelson Pereira dos Santos, que será exibido hoje, às 21h30, no Espaço Unibanco, "Porto das Caixas" (62), de Paulo Cezar Saraceni, e "Os Cafajestes" (62), de Ruy Guerra.
Essa trinca serve para mostrar que, ao contrário do que normalmente se pensa, o cinema novo começou muito plural, tanto em temas como em estética. Outro grande título do cinema novo, "Garrincha, Alegria do Povo" (65), abre a mostra hoje, às 19h, na Cinemateca, e será seguido de debate com o crítico Ismail Xavier.
Um dos trunfos da retrospectiva é exibir filmes pouco vistos ultimamente, como "Osso, Amor e Papagaios" (57), de César Mêmolo e Carlos Alberto de Souza Barros, e "Bahia de Todos os Santos" (61), de Trigueirinho Neto.
O primeiro é uma sátira social inspirada no conto "A Nova Califórnia", de Lima Barreto. O segundo, uma obra engajada que antecipa em muitos aspectos o próprio cinema novo.


Mostra Glauber Crítico    
Quando: até 4 de maio
Onde: Espaço Unibanco (r. Augusta, 1.470, tel. 287-5590) e Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, tel. 5084-2177)
Quanto: R$ 8



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