São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003 |
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TEATRO Em peça sobre o episódio ocorrido em 1910, grupo União e Olho Vivo lembra a diretora desaparecida nos anos 70 Heleny Guariba é homenageada em "Revolta da Chibata"
VALMIR SANTOS DA REPORTAGEM LOCAL Ela estudou teatro na França e na Alemanha, onde frequentou o lendário teatro do dramaturgo e teórico Bertolt Brecht (1898-1956), o Berliner Ensemble; trabalhou com o diretor Augusto Boal; deu aulas no seminário de dramaturgia do Teatro de Arena; fundou o grupo Teatro da Cidade, em Santo André (SP); e desapareceu após passar por sessões de tortura durante o regime militar, no início dos anos 70. A diretora teatral Heleny Ferreira Telles Guariba (1941-1971?) terá sua trajetória lembrada hoje, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), numa homenagem (pronunciamentos de amigos e familiares) que precederá a apresentação do espetáculo "João Cândido do Brasil - A Revolta da Chibata", com o grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, 37. "Nada mais apropriado do que homenagear Heleny com a história de outro perseguido político brasileiro", afirma o diretor e autor César Vieira, 65. A peça é baseada na vida do gaúcho João Cândido Felisberto (1880-1969), que liderou uma revolta de marujos em 1910, no Rio, contra os maus-tratos à base de chicotadas. Como nas peças anteriores, o União e Olho Vivo criou o texto e a encenação a partir do processo coletivo -César Vieira arrematou a dramaturgia. Estréia A primeira montagem do Teatro da Cidade, "Jorge Dandin, o Marido Traído" (1968), do dramaturgo francês Molière, foi vista por cerca de 7.000 pessoas. Faziam parte do elenco os jovens Antônio Petrin (atualmente em cartaz com "Um Merlin") e Sônia Braga, entre outros. No ano seguinte, Guariba também montou "A Ópera dos Três Vinténs", do alemão Brecht, um dos seus autores preferidos. A diretora foi casada com Ulysses Telles Guariba, hoje professor universitário em Assis (SP), onde também vive o filho mais velho do casal, Francisco, 40; o caçula João Vicente, 36, mora em Presidente Prudente (SP). Heleny Guariba era ligada à organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi presa em março de 1971, em São Paulo, pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops). Sofreu tortura por dois meses. Solta, foi detida novamente em julho daquele ano e enviada ao Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi), no Rio de Janeiro. Segundo testemunhas, ela foi torturada por três dias na "casa da morte", um dos aparelhos clandestinos da repressão, em Petrópolis (RJ). "Toda lembrança é importante, principalmente para nós que praticamente não convivemos com a minha mãe, éramos pequenos. Convivemos, sim, com toda a história de luta dela", afirma João Vicente. JOÃO CÂNDIDO DO BRASIL - A REVOLTA DA CHIBATA. Texto e direção: César Vieira. Com: Teatro Popular União e Olho Vivo. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Quando: hoje, às 21h30, e amanhã, às 21h. Quanto: entrada franca. Próximo Texto: 3ª edição do Fomento escolhe 17 projetos Índice |
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