São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007 |
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Daniel Senise traz obras "opressoras" Artista da Geração 80 expõe na Vermelho novos trabalhos em grandes dimensões, inspirados na arquitetura do ateliê Exposição individual reúne 13 obras inéditas, entre elas telas gigantescas que repetem a imagem de caixas em perspectiva
SILAS MARTÍ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Há 20 anos Daniel Senise teve uma crise que virou solução para a arte que fazia. A tinta a óleo que demorava a secar lhe dava fortes dores de cabeça e acabava inundando o chão do estúdio. Quando esses restos de cor e sujeira grudaram numa tela exposta para secar, descobriu um novo caminho. Aproveitar fragmentos da matéria representada na superfície do quadro foi a técnica que consagrou o artista como um dos pintores mais representativos da Geração 80, período marcado pela explosão da pintura na arte brasileira. Com novo fôlego, ele abre hoje na galeria Vermelho -que inaugura um anexo expositivo- uma individual com 13 obras inéditas. "Às vezes, eu não sabia quem estava no comando, mas agora eu sei que sou eu. Não quero achar que fechei meu departamento de pesquisas", afirma. Desafiando quem decretou a morte da técnica há 20 anos, Senise volta a fazer uma radiografia do entorno a partir de uma pintura acidental. Ele deita a tela no chão, transformando o tecido num papel carbono da arquitetura do ateliê, e recorta o pano em pedaços para compor a obra. "Parece um pouco distante da pintura, mas ainda se trata de representar algo numa superfície plana diante da qual as pessoas se colocam para observar", explica. Emprestados de filmes de Godard, como "Ici et Ailleurs", "Pravda" e "Numéro Deux", os títulos dão nome a telas gigantescas, que repetem a imagem de caixas em perspectiva. "Eu quero que o trabalho tenha uma escala um pouco opressiva", explica. A ilusão surge da repetição dos retalhos de pano numa grade criada pelo artista, que faz surgir grandes volumes tridimensionais na superfície plana das telas -uma delas tem mais de 4 m de largura e 2,5 m de altura. O artista faz também uma colagem de 1.172 aquarelas: cada uma retrata um taco do assoalho da sala de sua casa no Rio, como se cada pedaço de chão fosse uma paisagem individual. Numa paródia do suporte que o consagrou, Senise desenha em "Óleo" grossas faixas de tinta sobre uma tela que foi colada ao chão. As linhas brancas contrastam com a sujeira do piso e organizam o caos das manchas numa nova perspectiva minimalista. O recorte físico do piso e da arquitetura resume o pensamento do artista. Senise conta que muitas vezes tenta encaixar uma imagem em seu trabalho sem saber por que, até achar uma justificativa. "Uma fração, um instante, às vezes resolve muita coisa." DANIEL SENISE Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 17/11 Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, tel. 3257-2033) Quanto: entrada franca Próximo Texto: Por que ver Índice |
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