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MÚSICA
A grande vocalista de jazz de sua geração, norte-americana Madeleine Peyroux, 31, mostra sua voz à Billie Holiday
SP recebe "filha" da mãe de todas as cantoras
Rafa Rivas - 15.jul.2005/France Presse
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A norte-americana Madeleine Peyroux, que se apresenta hoje em São Paulo e deve calcar repertório em seu 2º CD, "Careless Love" |
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Madeleine Peyroux que se
apresenta hoje em São Paulo
este crítico assistiu no fim de maio
deste ano no Festival de Jazz de
Primavera de San Francisco, na
Califórnia, em duas noites batizadas "Vocalistas Visionárias".
(Em outra data, o mesmo evento receberia a grande Shirley
Horn, morta em outubro último,
em um de seus derradeiros
shows; a única diva do jazz viva
cantou e tocou piano já numa cadeira de rodas; foi inesquecível.)
Era a Madeleine Peyroux pré-"sumiço". Era também a Madeleine Peyroux pós-"ruas". Pré-"sumiço": em agosto, a cantora desapareceu em meio a uma agenda
apertada de shows. A Universal,
sua gravadora, contratou um detetive particular para descobrir
seu paradeiro. Depois, divulgou
que ela não agüentou o ritmo do
sucesso e saiu em busca do eixo.
Pós-"ruas": era a primeira apresentação só dela e banda para
uma platéia "de verdade", num
festival de jazz "de verdade", segundo palavras da própria. De lá,
ela disse, começaria uma turnê
nacional e depois internacional
-daí nós aqui no Brasil.
Até então -e aquela noite foi a
transformação, ao vivo-, ela ainda trazia a voz, os trejeitos e o
olhar pidão dos músicos de rua,
habituada que era a tocar para encher o chapéu. Antes de começar
a primeira música, disse, sem graça: "Quanta gente!". Depois,
emendou: "Quanto silêncio!".
Não sabia o que fazer com as
mãos, não sabia o que falar entre
as músicas, sua banda (piano, baixo, bateria, guitarra acústica à
Django Reinhardt) parecia feita
de umpa-lumpas, tal a desproporção entre o tamanho do palco
e o espaço que eles ocupavam
-físico e, OK, "psicológico".
Era uma vocalista e sua banda
tocando no metrô, se o metrô cobrasse US$ 80 pelo bilhete e fosse
freqüentado por dondocas, peruas e endinheirados em geral.
Também foi inesquecível.
Peyroux montou seu repertório
principalmente sobre o segundo e
mais recente álbum, o irretocável
"Careless Love", do ano passado,
cujo ponto alto é a interpretação
de "Dance me to the End of Love",
de Leonard Cohen. No CD como
no show, o ouvinte presencia
aquele momento preciso em que
músicas se tornam standards pelas cordas vocais das divas.
Tocou ainda "You're Gonna
Make Me Lonesome When You
Go", de Bob Dylan, irreconhecivelmente melhor com ela, a irrepreensível "J'Ai Deux Amours",
antes gravada por Josephine Baker, a sapeca "Don't Cry Baby", de
Ray Charles, e a triste, triste
"Weary Blues", de Hanky Williams, num crossover blues-jazz.
Nascida no Estado norte-americano da Geórgia há 31 anos, mas
de ascendência francesa (e uma
pós-adolescência cantando pelas
ruas e pelo metrô tanto de Paris
quanto de Nova York, o que realmente aconteceu, mas a gravadora gosta de bater nessa tecla para
dar mais "autenticidade" ao seu
produto), Peyroux vem nos últimos dias fazendo turnê no Brasil.
Já passou por Curitiba e o restaurante Jam House, em São Paulo, se apresentaria ontem à noite
em Porto Alegre e segue sexta-feira e sábado para Belo Horizonte e
Rio de Janeiro, respectivamente.
Depois, de volta aos EUA, para
Portland, no Estado de Oregon, e
o encerramento em Denver, no
Colorado.
Uma das críticas mais fáceis que
Peyroux recebe é que imita Billie
Holiday. De fato, a melhor cantora norte-americana de todos os
tempos está lá, na voz da discípula. De verdade, o que aconteceu é
que Peyroux tem uma notável semelhança vocal com Holiday, que
ela esgarçou o quanto foi preciso a
cada vez que ouvia a comparação
(leia "efeito chapéu", acima).
Com a prática e os anos, a característica ficou cada vez mais impregnada nela, na voz rascante e
doída, mas ganhou rosto próprio.
Reduzi-la a apenas isso é apenas
isso, reducionismo. Mesmo que
fosse, se é para imitar, por que não
imitar a mãe de todas as cantoras?
Madeleine Peyroux
Quando: hoje, às 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila
Olímpia, tel. 3846-2300)
Quanto: de R$ 150 a R$ 350 (para
estudantes, de R$ 75 a R$ 175)
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