São Paulo, terça, 23 de dezembro de 1997.



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HOMENAGEM
Evento organizado pelo irmão, José Celso, acontece hoje no Oficina
Leitura lembra dez anos da morte de Martinez Corrêa

CECÍLIA SAYAD
da Redação

Em 1987, ano em que foi assassinado, o diretor, autor e ator Luiz Antonio Martinez Corrêa encenou, com os seus alunos da Unirio (Fundação Universidade do Rio de Janeiro), um espetáculo nô intitulado "Taniko - Rito do Vale".
Hoje, dez anos depois da morte de Luiz Antonio, seu irmão, José Celso Martinez Corrêa, realiza, com a participação de cerca de 20 artistas, uma leitura da peça nô, escrita pelo japonês Zenchiku (1405-1568).
O horário é o mesmo da morte de Luiz Antonio: 14h30. O evento será gratuito e aberto ao público, que, segundo Zé Celso, vai ler a parte do texto que cabe ao coro.
O diretor definiu a leitura como uma "oração pública" para seu irmão, assassinado com cem facadas em seu apartamento no Rio, no dia 23 de dezembro. Ele também está realizando apresentações de "Ela", de Jean Genet, em homenagem a Luiz Antonio.
Em entrevista à Folha, concedida no último dia 9, o diretor disse que, pouco antes de morrer, Luiz Antonio estava trabalhando num projeto para colocar em cena a peça "Lulu - O Espírito da Terra", de Widekind.
A personagem, que também inspirou o filme "Lulu - Caixa de Pandora" (1928), de Georg Wilhelm Pabst, é assassinada a facadas pelo lendário Jack, o Estripador na noite de Natal.
"Ele (Luiz Antonio) queria montar a peça porque desejava libertar Lulu dessa maldição. Ou seja, essa mulher absolutamente livre do começo do século foi presa, ficou coagulada nesse assassinato. E Luiz Antonio queria, com sua montagem, libertar esse mito. Mas aconteceu a mesma coisa com ele", disse Zé Celso.
Hoje, à mesma hora, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, acontece a leitura da peça "Aquele que Diz Sim, Aquele que Diz Não", de Brecht, também em homenagem ao diretor e ator assassinado.
Depoimentos
A Folha conversou no final de semana com algumas das pessoas que trabalharam e conviveram com Luiz Antonio Martinez Corrêa. Nos depoimentos de Elba Ramalho, Vera Holtz, Maria Alice Vergueiro, Cacá Rosset e Cida Moreira, ele foi definido como extremamente jovial e bem-humorado.
"Ele parecia uma criança, era uma pessoa que tinha uma alma muito jovem e uma sabedoria profunda", disse a cantora Elba Ramalho.
"A gente tinha um humor muito parecido, ele era sempre bem-humorado, era um ator muito engraçado", declarou o diretor teatral Cacá Rosset.
"Meu primeiro trabalho com direção foi como assistente dele em 75, na peça 'Sai de Mim, Tinhoso'", explicou.
Luiz Antonio esteve presente também no início da carreira de Vera Holtz.
"Ele era muito alegre, um pequeno Brecht, um homem muito bem informado, muito culto e que tinha um gosto muito particular", afirmou.
"Tenho uma lembrança extremamente boa e carinhosa dele", disse a atriz Maria Alice Vergueiro. "A última vez que o vi, ele estava tão bonito, estava ficando com a cabeça branca."

Evento: leitura da peça "Taniko - Rito do Vale" Quando: hoje, às 14h30 (o teatro estará aberto a partir das 13h30, e a leitura começa rigorosamente no horário) Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, tel. 606-2818 Quanto: entrada franca


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