São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Chelpa Ferro monta elevador sonoro

Coletivo carioca cria torre de 14 caixas acústicas que sobe e desce no vão livre de 15 metros da Pinacoteca do Estado

Obra emite sons mecânicos capazes de fazer tremerem chão e paredes do espaço reformado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Luiz Zerbini, Barrão e Sérgio Mekler, do Chelpa Ferro, com sua obra na Pinacoteca do Estado

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Totoro é um monstro japonês, personagem de Hayo Miyazaki. "É um bicho grande, superligado em som, sensível e peludo", completa Luiz Zerbini, do coletivo Chelpa Ferro. É também o nome da megainstalação que o trio Zerbini, Barrão e Sérgio Mekler, juntos no grupo carioca, mostram a partir de amanhã na Pinacoteca do Estado: uma torre de 14 caixas acústicas, suspensa por cabos de aço, que sobe e desce pelo vão livre de 15 m do espaço conhecido como Octógono. No chão, esse totem fica escondido dentro de um cilindro, aparecendo só quando içado ao alto.
"A gente pensa no esconder, no revelar, na hora que aquilo vai surgir", conta Mekler à Folha. "É o som e o objeto." E o som amplia as dimensões desse pistão gigante, enchendo de graves e agudos o espaço monumental do museu -a trilha de uma hora costura o ruído de ventos uivantes com correntes que se arrastam, gotas d'água, barulho indistinto. "São ambientes sonoros transformados, não dá para perceber o que eles são", diz Barrão. "É uma forma de fazer o som trabalhar esse espaço de uma maneira diferente."
Isso porque os alto-falantes estão instalados cada um de um lado da torre, alternando não só entre graves e agudos, ruídos intercalados, mas também os momentos em que disparam seu repertório de sons eletrônicos. "Uma hora só tem som para cá, outra hora só para lá, é toda uma textura sonora", descreve Zerbini. "É o jeito de fazer o som dançar no espaço." O movimento vertical da torre, de fato, confere pesos diferentes aos ruídos. É como se o som criasse um invólucro material em torno do objeto, capaz de acionar, em sequência aleatória, os dois andares e oito lados do espaço.
Na montagem, quando testavam com o áudio, conseguiam fazer encher de visitantes o segundo andar e manter o primeiro vazio ao mesmo tempo e vice-versa.

Tentáculos
É o inverso da lógica de "Octopus", obra de 2006, em que instalaram caixas acústicas nos cantos de uma sala, bombardeando quem entrasse no espaço com sons de água, baterias e outros instrumentos. Aqui, é o espaço que recebe os golpes, numa escala de um trinado ao grave ultrapotente, que fazem tremerem chão e paredes.
Este novo trabalho também guarda relação com outra obra de três anos atrás, "Totó Treme Terra", em que uma mesa de pebolim é construída a partir de alto-falantes que emitem os sons da partida: bola, gritos da torcida e apitos do árbitro.
A diferença agora é que esta, ao contrário de obras anteriores deste que é um dos grupos de artistas mais respeitados do país, descarta as luzes elétricas que costumam compor suas complexas sinfonias ruidosas. Os silêncios, que costumavam ser preenchidos com flashes de luz, agora ressaltam o grande vazio do Octógono. No lugar das lâmpadas, a luz do sol filtrada pela clarabóia imensa no teto. "A luz daqui já é tão bonita, esse vazio, a luz."


CHELPA FERRO
Quando: abertura amanhã, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/3
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: entrada franca



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