São Paulo, sábado, 24 de maio de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BUTÔ
Kazuo Ohno cede lugar ao filho Yoshito na estréia

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

O espetáculo "Tendoh Chidoh" ("Caminho no Céu, Caminho na Terra"), que na quarta-feira marcou a estréia de Kazuo Ohno na Temporada Sesc Outono/97, inspira-se na obra do pintor japonês Soga Shohoku (1730-1781).
Segundo Ohno, as serigrafias de Shohoku lhe despertaram a sensação cósmica, que pontua suas criações. Para o espectador, no entanto, pouco importam as referências originais de Ohno.
Em "Caminho no Céu, Caminho na Terra", as imagens produzidas por Shohoku são reconhecíveis somente no início do espetáculo, através da indumentária de Ohno.
Rudeza aparente Segurando uma espécie de
vassoura e vestido como um camponês, Ohno entra no palco lembrando uma figura rústica, retratada por Shohoku há 200 anos.
Logo em seguida, Ohno mostra que a rudeza deste personagem é apenas aparente. Ao retirar a capa que o envolve, aparece com uma segunda roupa, mais refinada e com harmonioso colorido.
Sutilmente, Ohno inicia seu jogo de transmutações, que não depende de temas ou alusões explícitas. Livre de padrões (entre eles a própria idade), dança como se estivesse no útero materno, sensível a pulsações e ritmos delicados.
Técnica
Menos presente no palco do que o público gostaria, Ohno cede espaço para seu filho Yoshito. Ao contrário do pai, Yoshito realiza uma dança butô menos emotiva e mais técnica.
Com excepcional controle, explora uma totalidade de pequenos movimentos, proporcionando uma aula de virtuosismo em butô.
Seu longo solo é um dos pontos altos da apresentação. Até então um coadjuvante nos espetáculos de Kazuo Ohno, Yoshito agora revela que também é um intérprete raro, com recursos expressivos distintos, não comparáveis aos de seu pai.
Elvis
Quanto a Kazuo Ohno, sua condição de mito já é suficiente para levar a platéia a um estado de contemplação do sagrado.
Mas, como cúmplice atento do público, Ohno compensa suas aparições pouco frequentes com um bis generoso.
Sob o embalo de canções de Elvis Presley, volta à cena para dançar com a graça de um adolescente, que contagia uma platéia já predisposta a ovacioná-lo.
Ninféias
Não deve ser diferente o programa de hoje, que encerra esta temporada de Kazuo Ohno em São Paulo (com sua última apresentação amanhã).
Tal como a peça anterior, "Suiren" ("Ninféias") foi criada a partir das impressões causadas pela obra do pintor francês Claude Monet.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã