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BUTÔ
Kazuo Ohno cede lugar ao filho Yoshito na estréia
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O espetáculo "Tendoh Chidoh"
("Caminho no Céu, Caminho na
Terra"), que na quarta-feira marcou a estréia de Kazuo Ohno na
Temporada Sesc Outono/97, inspira-se na obra do pintor japonês
Soga Shohoku (1730-1781).
Segundo Ohno, as serigrafias de
Shohoku lhe despertaram a sensação cósmica, que pontua suas criações. Para o espectador, no entanto, pouco importam as referências
originais de Ohno.
Em "Caminho no Céu, Caminho na Terra", as imagens produzidas por Shohoku são reconhecíveis somente no início do espetáculo, através da indumentária de
Ohno.
Rudeza aparente
Segurando uma espécie de
vassoura e vestido como um
camponês, Ohno entra no palco
lembrando uma figura rústica,
retratada por Shohoku há 200
anos.
Logo em seguida, Ohno mostra
que a rudeza deste personagem é
apenas aparente. Ao retirar a capa
que o envolve, aparece com uma
segunda roupa, mais refinada e
com harmonioso colorido.
Sutilmente, Ohno inicia seu jogo
de transmutações, que não depende de temas ou alusões explícitas.
Livre de padrões (entre eles a própria idade), dança como se estivesse no útero materno, sensível a
pulsações e ritmos delicados.
Técnica
Menos presente no palco do que
o público gostaria, Ohno cede espaço para seu filho Yoshito. Ao
contrário do pai, Yoshito realiza
uma dança butô menos emotiva e
mais técnica.
Com excepcional controle, explora uma totalidade de pequenos
movimentos, proporcionando
uma aula de virtuosismo em butô.
Seu longo solo é um dos pontos
altos da apresentação. Até então
um coadjuvante nos espetáculos
de Kazuo Ohno, Yoshito agora revela que também é um intérprete
raro, com recursos expressivos
distintos, não comparáveis aos de
seu pai.
Elvis
Quanto a Kazuo Ohno, sua condição de mito já é suficiente para
levar a platéia a um estado de contemplação do sagrado.
Mas, como cúmplice atento do
público, Ohno compensa suas
aparições pouco frequentes com
um bis generoso.
Sob o embalo de canções de Elvis
Presley, volta à cena para dançar
com a graça de um adolescente,
que contagia uma platéia já predisposta a ovacioná-lo.
Ninféias
Não deve ser diferente o programa de hoje, que encerra esta temporada de Kazuo Ohno em São
Paulo (com sua última apresentação amanhã).
Tal como a peça anterior, "Suiren" ("Ninféias") foi criada a
partir das impressões causadas pela obra do pintor francês Claude
Monet.
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