São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

Índice

DRAMATURGIA

Projeto gratuito traz seis textos inéditos do inglês à cidade

"Lendo Pinter" reúne peças de 1950 a 1990

Divulgação
A atriz Ana Lucia Torre, protagonista do monólogo "Rose Rose"


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos mais importantes dramaturgos vivos da atualidade, o inglês Harold Pinter, 73, é pouco publicado ou encenado entre nós.
Das cerca de 40 peças que escreveu, por exemplo, traduziu-se "A Volta ao Lar" ("The Homecoming", 1964), por Millôr Fernandes, publicada lá nos anos 1970.
Na temporada paulistana, está em cartaz, no teatro Augusta, "O Amante" ("The Lover", 1962), com tradução de Sérgio Viotti e direção de Édi Botelho.
O ciclo "Lendo Pinter", que abre hoje no teatro Cultura Inglesa de Higienópolis, introduz seis peças do autor inéditas nos palcos da cidade, ainda que escritas entre as décadas de 50 e 90.
Na abertura, será apresentada "Outros Lugares" ("Other Places", 1982), soma de três textos curtos.
"Vozes de Família" expõe vão entre pai, mãe e filho por meio de cartas que se cruzam, mas nunca alcançam seus destinos; "Estação Vitória" traz o diálogo por rádio entre um motorista de táxi e a sua central, numa fria e solitária madrugada de uma grande cidade; e "Um Tipo de Alasca" trata da história de uma mulher de 40 anos, vítima de encefalite letárgica, que desperta após sono de 29 anos (baseada na obra "Tempo de Despertar", de Oliver Sacks, levada ao cinema por Penny Marshall).
Segundo o tradutor, diretor e curador do projeto, Alexandre Tenório, 44, "Vozes de Família" e "Estação Vitória" são originalmente peças radiofônicas, veículo para o qual Pinter escrevia com freqüência, além da TV e cinema.
"Suas peças às vezes trazem fiapos de trama. No entanto, por menos concreta que seja, surge uma história ao final", diz Tenório. "O foco da dramaturgia de Pinter é a relação das pessoas, que é também uma relação de poder. No seu hiperrealismo psicológico, os personagens são submetidos ao jogo de forças políticas."
Tenório afirma que a filiação automática de Pinter ao chamado teatro do absurdo pode estigmatizá-lo (com Beckett e Ionesco, nos anos 50, eles retrataram um mundo dilacerado por conflitos e ideologias no pós-guerra).
"Os diálogos são brilhantemente construídos, há sempre um personagem sob o domínio do outro. Essa forma rigorosa de tratar as palavras não impede que sua linguagem traga ainda um lado poético, lírico", diz Tenório, que aponta influência de Pinter entre contemporâneos, como as inglesas Caryl Churchill e Sarah Kane e o norueguês Jon Fosse.
A leitura de "Outros Lugares" será feita por Ana Lucia Torre, Rubens de Falco, Alex Gruli, Bruno Rocha e Mirian Mehler.
A programação segue nas próximas segundas-feiras com "Paisagem" e "Silêncio", ambas de 1969 (no dia 31/5); "Velhos Tempos", de 1971 (dia 7/6); "A Estufa", de 1958 (dia 14/6); e finalmente "Do Pó ao Pó", de 1996 (dia 21/6).

LENDO PINTER. De hoje a 21/6, sempre às 20h. Onde: teatro Cultura Inglesa de Higienópolis (av. Higienópolis, 449, tel. 3826-4322). Quanto: entrada franca (retirar ingressos com antecedência; a bilheteria abre às 17h às segundas-feiras). 80 lugares.


Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.