São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009 |
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Christian Lacroix expõe acervo de figurinos para teatro no MAB Com a maison em concordata, estilista esbanja criatividade diante da crise
SILAS MARTÍ DA REPORTAGEM LOCAL
Uma mulher se veste de homem no jogo amoroso de "Così
Fan Tutte", ópera de Mozart.
No drama "Heliogábalo", de
Francesco Cavalli, um rei pervertido se veste de mulher na
condução de seu harém.
São mudanças de papéis a
cargo do estilista francês Christian Lacroix, que trocou a passarela pelo palco em mais de 40
montagens. De um extremo a
outro, nunca negou suas "inclinações barrocas", escancaradas
nos cem trajes e mais de 80 croquis reunidos agora no Museu
de Arte Brasileira da Faap.
Nome central da alta-costura
que despontou nos anos 70, Lacroix vem sofrendo prejuízos
com a crise financeira. Sua maison entrou em concordata neste ano, mas ele continua produzindo figurinos e desfilou uma
elogiada coleção de alta-costura no mês passado, em Paris.
Lacroix, aliás, não se assusta
com a crise. Tanto na moda como nos figurinos a precariedade serviu de motor. Quando
precisou vestir sem nenhum
dinheiro todo o elenco de "Otelo", na montagem de 1995, do
parisiense teatro 14, comprou
toda a matéria-prima no mercado de pulgas de Londres.
Numa mistura declarada de
épocas, chegou a exclamar que
"nada se parece mais com um
gibão da Renascença do que um
blusão de couro de motociclista
contemporâneo". Disfarçando
o desgaste das peças, confessou
que jogaria "diamantina neles".
Também foi e voltou no tempo com as peças andróginas de
"Così Fan Tutte", do teatro de
La Monnaie, em Bruxelas.
"Gosto da pegada hiper-século
18, com um acabamento um
tanto rugoso, um toque mais
contemporâneo, acrescentando um capuz streetwear a um
traje de época", escreveu.
Coincidência ou não, isso foi
no mesmo ano em que Sofia
Coppola calçou de All Star sua
Maria Antonieta no cinema.
Lacroix exprime seu mélange de épocas também pelos materiais que usa. Isso porque toda roupa deve "falar" em cena,
o veludo que adensa ou suaviza
um traço do personagem, a estampa que pode transformar
Carmen de Bizet em Brigitte
Bardot sessentista.
No fim das contas, talvez porque nunca teve a pressão de
vender suas criações de ópera e
teatro nas passarelas, Lacroix
diz ser mais feliz criando figurinos. "Nunca dissimulei o lado
teatral das minhas coleções",
escreveu o estilista. Talvez porque, também na passarela, buscou sempre um conjunto harmônico, um feminino à flor da
pele, algo entre o "véu diáfano"
e o "feltro espesso". CHRISTIAN LACROIX Quando: ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e dom., das 13h às 17h Onde: MAB-Faap (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7197) Quanto: entrada franca Índice |
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