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CRÍTICA TEATRO
"A Gaiola das Loucas" reforça escola de musical à brasileira
CHEGA A SER EMOCIONANTE VER OS ATORES ASSUMINDO E VENCENDO O DESAFIO DE COLOCAR DE PÉ UM PROJETO DESSE PORTE
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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Quem canta seus males espanta. "A Gaiola das Loucas"
é um espetáculo que entusiasma por várias razões,
mas adquire um sentido próprio no Brasil de hoje.
Quando Jean Poiret escreveu a peça original em 1973,
na França, ela podia ser lida
como um sucedâneo da onda
de androginia que emergira
nos anos 1960 e reverberou
por aqui em fenômenos como o "Dzi Croquetes".
Dez anos depois, com a
adaptação Harvey Fierstein
para o formato de musical da
Broadway, significou, no início da epidemia da Aids, um
hino à vida e de exaltação do
orgulho gay.
Agora, com a encenação
de Miguel Falabella, coincide
com uma onda de homofobia
no país.
O espetáculo consolida a
retomada de um teatro musical à brasileira, que veio
ocorrendo na última década.
Criador singular, Falabella
combina aqui diversos talentos: o de encenador, na melhor tradição de Walter Pinto
(1913-1994) e do grande teatro de revista das décadas de
1930 e 1940; o de ator, inserindo no modelo dos musicais norte-americanos a tradição dos humoristas revisteiros; e o de dramaturgo e
tradutor, adaptando o texto e
vertendo as letras das belas
canções de Jerry Herman.
Verdade que nem todas as
versões se encaixam fluentemente nas melodias, e que
seu desempenho como cantor é modesto. Mas essas limitações são compensadas
pelo tempo cômico preciso e
uma capacidade de improviso estranha aos especialistas
no gênero.
Diogo Vilela, que divide o
protagonismo com ele, também enfrenta corajosamente
as várias canções antológicas sem ser, exatamente, um
cantor. Chega a ser emocionante ver esses dois companheiros de geração assumindo e vencendo o desafio de
colocar de pé um projeto desse porte.
Destaque-se também o homogêneo grupo de atores e
atrizes que formam o coro
dançante, alcançando em
números mais complexos,
como o do cancã, um nível
surpreendente de qualidade,
o que se pode atribuir à direção coreográfica de Chet
Walker, ex-assistente de Bob
Fosse (1927-1987).
Completam o conjunto de
acertos a cenografia simples,
mas intensa, à base de projeções e cortinas laminadas, de
Clivia Cohen, e a orquestra
afiada sob a batuta de Carlos
Bauzys.
Ao final, no arrebatamento de uma plateia lotada, percebe-se a potencialidade do
teatro musical como formador de público e meio sadio
de enfrentar os traumas e tabus sociais.
A GAIOLA DAS LOUCAS
QUANDO qui. e sáb., às 21h; sex.,
às 21h30; dom., às 19h; até 19/
12
ONDE Teatro Bradesco (r. Turiassu,
2.100, tel. 4003-1212)
QUANTO de R$ 20 a R$ 170
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
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