São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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CRÍTICA TEATRO

"A Gaiola das Loucas" reforça escola de musical à brasileira


CHEGA A SER EMOCIONANTE VER OS ATORES ASSUMINDO E VENCENDO O DESAFIO DE COLOCAR DE PÉ UM PROJETO DESSE PORTE

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Quem canta seus males espanta. "A Gaiola das Loucas" é um espetáculo que entusiasma por várias razões, mas adquire um sentido próprio no Brasil de hoje.
Quando Jean Poiret escreveu a peça original em 1973, na França, ela podia ser lida como um sucedâneo da onda de androginia que emergira nos anos 1960 e reverberou por aqui em fenômenos como o "Dzi Croquetes".
Dez anos depois, com a adaptação Harvey Fierstein para o formato de musical da Broadway, significou, no início da epidemia da Aids, um hino à vida e de exaltação do orgulho gay.
Agora, com a encenação de Miguel Falabella, coincide com uma onda de homofobia no país.
O espetáculo consolida a retomada de um teatro musical à brasileira, que veio ocorrendo na última década.
Criador singular, Falabella combina aqui diversos talentos: o de encenador, na melhor tradição de Walter Pinto (1913-1994) e do grande teatro de revista das décadas de 1930 e 1940; o de ator, inserindo no modelo dos musicais norte-americanos a tradição dos humoristas revisteiros; e o de dramaturgo e tradutor, adaptando o texto e vertendo as letras das belas canções de Jerry Herman.
Verdade que nem todas as versões se encaixam fluentemente nas melodias, e que seu desempenho como cantor é modesto. Mas essas limitações são compensadas pelo tempo cômico preciso e uma capacidade de improviso estranha aos especialistas no gênero.
Diogo Vilela, que divide o protagonismo com ele, também enfrenta corajosamente as várias canções antológicas sem ser, exatamente, um cantor. Chega a ser emocionante ver esses dois companheiros de geração assumindo e vencendo o desafio de colocar de pé um projeto desse porte.
Destaque-se também o homogêneo grupo de atores e atrizes que formam o coro dançante, alcançando em números mais complexos, como o do cancã, um nível surpreendente de qualidade, o que se pode atribuir à direção coreográfica de Chet Walker, ex-assistente de Bob Fosse (1927-1987).
Completam o conjunto de acertos a cenografia simples, mas intensa, à base de projeções e cortinas laminadas, de Clivia Cohen, e a orquestra afiada sob a batuta de Carlos Bauzys.
Ao final, no arrebatamento de uma plateia lotada, percebe-se a potencialidade do teatro musical como formador de público e meio sadio de enfrentar os traumas e tabus sociais.

A GAIOLA DAS LOUCAS
QUANDO qui. e sáb., às 21h; sex., às 21h30; dom., às 19h; até 19/ 12
ONDE Teatro Bradesco (r. Turiassu, 2.100, tel. 4003-1212)
QUANTO de R$ 20 a R$ 170
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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