"Cronos", de Del Toro, e "O Túmulo Sinistro", de Corman, têm exibição hoje

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Carnavalesco é um termo que, em tempos mais cristãos, estaria proibido numa Quarta-Feira de Cinzas, dia tradicional de contrição e de arrependimentos. Findos a folia na Marquês de Sapucaí e seu Carnaval para alegrar gringos e Rambos, é hora de descobrir que carnavalesco, no sentido de excesso, de criatividade transbordante, está à espera de quem se aventurar na sessão dupla do Comodoro nesta quarta-feira.
Os títulos programados por Carlos Reichenbach juntam "Cronos", de 1993, estreia na direção do mexicano Guillermo Del Toro, e "O Túmulo Sinistro" (1964), que encerra o ciclo dedicado por Roger Corman à obra do escritor Edgar Allan Poe no início da década de 60.
Para quem conheceu ou passou a admirar as extravagâncias visuais de Del Toro com suas adaptações de "Hellboy" (2004) e "Labirinto do Fauno" (2006), "Cronos" ajuda a confirmar a sua habilidade para criar climas e, sobretudo, para construir um imaginário exuberante, visivelmente inspirado na matriz católica em que foi criado.
"Cronos" narra as atribulações provocadas pela redescoberta de um artefato perdido há 450 anos que, ao ser vendido por um antiquário, reativa um maquinismo capaz de, por meio de um líquido, fazer retornar a saúde e o vigor da juventude, ao mesmo tempo em que torna quem o recebe sedento por sangue humano...

"Menos é mais"
Do vampirismo ao clássico tema da alma penada, a sessão do Comodoro nos leva ao terreno do mítico Roger Corman, produtor, diretor e inspirador de dezenas de jovens cineastas norte-americanos nos anos 60, que com ele compreenderam o valor do "menos é mais".
"O Túmulo Sinistro" encerra um ciclo que Corman dedicou a Poe, adaptando vários de seus contos. Aqui, narra a história de Ligeia, que morre, mas abre os olhos ao ser enterrada. Depois, passa a assombrar a região de uma abadia gótica.
Além da habilidade de Corman em recriar Poe com um visual extravagante, a maior atração do longa é a presença fascinante de Vincent Price como um nobre sempre vestido de preto e obcecado pela mulher morta. Um programa duplo com poder das sombras forte o suficiente para nos fazer esquecer do excesso de colorido dos últimos dias.