São Paulo, sábado, 25 de julho de 2009

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Crítica/"O Guerreiro Genghis Khan"

Cinebiografia prefere ação a herói

Filme, que reconstrói jornada de herói mongol, aposta no formato de cinema-game e abdica de sua cinematografia local

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A dieta de épicos imposta durante décadas por Hollywood nos obrigou a nos acostumar com heróis loiros e de olhos azuis e, claro, fluentes em inglês desde o berço. Quando cinematografias locais retomam a posse de seus mitos espera-se que ao menos queiram projetar imagens mais potentes em sua diferença. Essa, porém, é apenas uma e não a menor das decepções de "O Guerreiro Genghis Khan".
O diretor russo Sergei Bodrov propõe uma adaptação que segue o infalível molde de jornada do herói, dividido progressivamente em três tempos: separação, iniciação e retorno. No meio dessa progressão está o garoto Temudjin, que inicia a jornada ao lado do pai, a quem perderá logo. Em seguida, enfrenta os desafios que se tornarão momentos de sua conversão em herói e mito mongol.
A opção feita pela produção não permite distinguir o filme de uma epopeia global, dimensionada para satisfazer o apetite tanto de um espectador mongol como de um brasileiro. Nessa desproporção o que se perde é justamente aquilo que poderia interessar, ou seja, quem foi o tal Genghis Khan?
Em vez disso, o filme nos oferece um excessivo banquete de batalhas e sangue, intercalado por imagens pictóricas da paisagem mongol. O que importa com isso é afirmar a capacidade de competir com o padrão hollywoodiano, com o uso de recursos de pós-produção tais como cenários computadorizados e uma opção definida pelo cinema-game, com ação calibrada para manter atento o espectador que só se contenta com ritmo incessante.
Nada contra a estratégia do espetacular para conquistar públicos amplos, tal como demonstrado pelos chineses com os eficientíssimos "Herói" e "O Clã das Adagas Voadoras".
Só que a distribuição do filme no Brasil restringiu o lançamento a cópias digitais que apagam o espetáculo de "O Guerreiro Genghis Khan" com uma pálida, escura e distorcida projeção. E quem tem vontade de pagar quase R$ 20 para ver algo equivalente a um DVD ruim projetado em tela grande se no camelô da esquina pode obter mais por muito menos?


O GUERREIRO GENGHIS KHAN

Direção: Sergei Bodrov
Produção: Cazaquistão/Rússia/Mongólia/Alemanha, 2007
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim


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