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Crítica/"O Guerreiro Genghis Khan"
Cinebiografia prefere ação a herói
Filme, que reconstrói jornada de herói mongol, aposta no formato de cinema-game e abdica de sua cinematografia local
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A dieta de épicos imposta
durante décadas por
Hollywood nos obrigou
a nos acostumar com heróis loiros e de olhos azuis e, claro,
fluentes em inglês desde o berço. Quando cinematografias locais retomam a posse de seus
mitos espera-se que ao menos
queiram projetar imagens mais
potentes em sua diferença. Essa, porém, é apenas uma e não a
menor das decepções de "O
Guerreiro Genghis Khan".
O diretor russo Sergei Bodrov propõe uma adaptação
que segue o infalível molde de
jornada do herói, dividido progressivamente em três tempos:
separação, iniciação e retorno.
No meio dessa progressão está o garoto Temudjin, que inicia
a jornada ao lado do pai, a quem
perderá logo. Em seguida, enfrenta os desafios que se tornarão momentos de sua conversão em herói e mito mongol.
A opção feita pela produção
não permite distinguir o filme
de uma epopeia global, dimensionada para satisfazer o apetite tanto de um espectador
mongol como de um brasileiro.
Nessa desproporção o que se
perde é justamente aquilo que
poderia interessar, ou seja,
quem foi o tal Genghis Khan?
Em vez disso, o filme nos oferece um excessivo banquete de
batalhas e sangue, intercalado
por imagens pictóricas da paisagem mongol. O que importa
com isso é afirmar a capacidade
de competir com o padrão
hollywoodiano, com o uso de
recursos de pós-produção tais
como cenários computadorizados e uma opção definida pelo
cinema-game, com ação calibrada para manter atento o espectador que só se contenta
com ritmo incessante.
Nada contra a estratégia do
espetacular para conquistar
públicos amplos, tal como demonstrado pelos chineses com
os eficientíssimos "Herói" e "O
Clã das Adagas Voadoras".
Só que a distribuição do filme
no Brasil restringiu o lançamento a cópias digitais que
apagam o espetáculo de "O
Guerreiro Genghis Khan" com
uma pálida, escura e distorcida
projeção. E quem tem vontade
de pagar quase R$ 20 para ver
algo equivalente a um DVD
ruim projetado em tela grande
se no camelô da esquina pode
obter mais por muito menos?
O GUERREIRO GENGHIS KHAN
Direção: Sergei Bodrov
Produção: Cazaquistão/Rússia/Mongólia/Alemanha, 2007
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim
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