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Crítica/"Perfumes de Sim"
Vanessa da Mata "limpa" o próprio palco
Patricia Stavis/Folha Imagem
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Vanessa da Mata, que fez três shows em SP no fim de semana
DA REPORTAGEM LOCAL
O tempo passa rápido
para que cada coisa encontre seu devido lugar. Quando, em 2007, lançou
"Sim", álbum de onde vem boa
fatia do repertório mostrado
em seus shows desse último
fim de semana em São Paulo,
Vanessa da Mata estava "estourada" pela primeira vez.
A animada "Ai, Ai, Ai", do disco anterior, era uma febre e alcançara o primeiro posto entre
as mais tocadas naquele período. A novinha "Boa Sorte/Good
Luck", em dobradinha com Ben
Harper, também caminhava
para o topo. E, regra número
um das paradas de sucesso,
quem está em primeiro lugar
pode ter tudo o que quiser.
Vanessa teve tudo -inclusive coisas que não lhe faziam a
menor falta. Tinha cenário cabeça de Helio Eichbauer (o
mesmo que faz os de Caetano
Veloso), uma banda com músicos estrelados (Davi Morais nas
guitarras, por exemplo), backing vocalistas, participação
virtual -pré-gravada- de Ben
Harper e o que mais ela inventasse. E não era um grande
show. Sofria por escassez de,
imagine só, Vanessa da Mata.
O novo espetáculo busca o
oposto disso. Uma limpeza geral derrubou tudo que era mera
ostentação, o desnecessário para a música, o que poluía a imagem. E trouxe Vanessa - a
compositora, a cantora, a mulher de cena- de volta para o
eixo de seu próprio palco.
Para que isso se desse, tudo
teve que ficar mais enxuto, a
começar pela banda. A bateria
continua a cargo de Stephane
San Juan (Orquestra Imperial)
e os teclados, nas mãos de Donatinho -que, além dos sons
cada vez mais impressionantes
que vem tirando do instrumento, dá um show fazendo a voz
masculina em "Boa Sorte".
No baixo e na produção musical, está o eficiente Kassin,
com quem Vanessa já trabalhou na concepção de "Sim", o
disco. Davi Morais teve seu lugar ocupado pelo também ótimo Gustavo Ruiz. Só os quatro.
Agora, o cenário diz a que
veio. Vanessa entra em cena
atravessando uma floresta seca
-mas florida- que, graças a
efeitos de autocontraste da iluminação, consegue se tornar
quase uma imagem em duas dimensões, plana como uma tela.
A luz aumenta em seguida e
Vanessa, com um esvoaçante
vestido amarelo, está pronta
para rodar as canções que o Citibank Hall lotado (ingressos
esgotados) já sabe de cor.
"Baú", "Vermelho", "Pirraça", "Fugiu com a Novela", "Ilegais", "Você Vai me Destruir"
-que já estavam em "Sim", mas
agora, limpas dos excessos, parecem mais dela do que antes.
A essas, somou alguns hits de
antes -"Joãozinho", "Não me
Deixe Só"- e uma inédita,
composta com Fernando Catatau, do Cidadão Instigado. E
um bocado de canções alheias.
Novidade maior é sua versão
para "Último Romance", de Rodrigo Amarante, gravada em
"Ventura", o terceiro álbum do
Los Hermanos. Tão doce e delicada quanto "Um Dia, um
Adeus", clássico de Guilherme
Arantes, que viria no bis.
Na apresentação de sábado,
Vanessa recebeu Marcelo Jeneci -o melhor compositor
pop brasileiro pós-Los Hermanos- e sua sanfona. Ele é coautor de "Amado", segunda faixa
estourada em "Sim".
Cantando juntos, os dois
trouxeram à canção o impacto
da novidade, a essência que
tantas audições, na novela ou
no rádio, já haviam roubado dela. Foi um momento arrebatador por sua simplicidade, que
resumiu bem o que certas "limpezas" podem alcançar.
(MARCUS PRETO)
Avaliação: ótimo
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