São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

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Ivo Perelman faz 1º show no Brasil

Radicado nos EUA desde 1981, saxofonista paulista mostra sua música de vanguarda em apresentação no Tom Jazz

Ao lado do violoncelista holandês Ernst Reijseger, Perelman exibe por aqui sua música livre, que ele afirma ser "pós-free jazz"

Divulgação
O saxofonista Ivo Perelman, que estréia no país após 25 anos


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 1981, o então jovem estudante paulista de arquitetura Ivo Perelman resolveu bancar um sonho louco: ir para os Estados Unidos estudar música e descobrir se tinha alguma chance de se tornar um nome no universo do jazz. Passou lá cinco anos tendo aulas com professores particulares e em escolas como a conceituada Berklee. Quando já estava pensando em voltar, surgiu o convite para gravar um disco.
Depois disso, era só ir embora, ele pensou. Mas o disco gravado acabou rendendo prêmios, críticas elogiosas, convites para festivais, outros discos. Nunca mais voltou, a não ser em ocasionais visitas rápidas.
Vinte e cinco anos depois daquela primeira ida, o hoje experiente e respeitado saxofonista tenor, quase 30 discos no currículo, sobe pela primeira vez em um palco brasileiro, ao lado do violoncelista holandês Ernst Reijseger, no Tom Jazz. Perelman e Reijseger nunca tocaram juntos nem pretendem ensaiar.
"Assim, fica tudo mais interessante", explica. "No tipo de música que fazemos, a interação espontânea é uma maximização, o frescor é um multiplicador. Nos discos que gravei, busquei registrar exatamente esse primeiro encontro dos músicos. É como quando você conhece alguém, aquela descoberta é sempre excitante."
Adepto da música livre, chamada de vanguarda, Perelman descreve seu som como pós-free jazz, pós-Ornette Coleman. Uma música geralmente considerada difícil, para entendidos. Mas ele discorda. "Quanto mais informação a pessoa tem, mais resistente ela se torna", acredita. "Em todos os shows que faço, sempre tem aquele pessoal que não conhece nada, nunca ouviu jazz, e vem dizer que se emocionou."
Então, o free jazz ainda sofre resistência dentro do universo mais tradicionalista do jazz? "O curioso disso é que o free jazz não é mais uma coisa nova.
Mas, como não houve mais nada depois dele, ele continua sendo vanguarda. Hoje, as fronteiras estão se derretendo." Quando Perelman saiu do Brasil, a música instrumental brasileira passava por uma fase rica e produtiva, com o surgimento de grupos como Medusa e Pau Brasil. Ele se diz fã, mas não considera aquilo jazz. "Não existe samba americano e não existe jazz brasileiro. O jazz veio do blues. A música brasileira tem outras raízes, as duas não se misturam."
E, depois de 25 anos, tocar no Brasil vem com aquele peso? "Olha, eu também ainda não toquei em muitos outros países. No Brasil, é claro que tem um peso natural e uma curiosidade, mas nada que valha virar título de matéria no jornal."

ERNST REIJSEGER E IVO PERELMAN
Quando:
hoje, às 23h
Onde: Tom Jazz (av. Angélica, 2.331, Higienópolis, tel. 3255-3635; R$ 40)
Quanto: R$ 40


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