São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Crítica/"Quase Irmãos"

Comédia agressiva subverte padrões e ataca certos valores da era Bush

Divulgação
John C. Reilly (dir.) e Will Ferrell em cena de 'Quase Irmãos'

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Em "Quase Irmãos", Will Ferrell e Judd Apatow voltam a dividir créditos de produção depois de "Ricky Bobby - À Toda Velocidade". Seguindo a lógica do "filme de turma", o ótimo John C. Reilly se junta à trupe outra vez. Ferrell e Reilly, além de viverem os personagens principais, também escreveram o argumento, em parceria com o diretor Adam McCay.
E que argumento. Brennan (Ferrell) e Dale (Reilly) têm mais de 40 anos, mas ainda moram, respectivamente, com a mãe (Mary Steenburgen) e o pai (Richard Jenkins). Quando estes se casam, os "rapazes" se tornam irmãos. É o pretexto para que os dois marmanjos se entreguem ao comportamento mais infantilóide possível.
O tom, mais uma vez, é audacioso. O que parece besteira vai se revelando uma subversão dos padrões estabelecidos da comédia politicamente correta. O filme desfila piadas agressivas, mas é incrível como esse tom não chega a ser ofensivo. Ao escrever sobre "Quase Irmãos", Roger Ebert, o mais famoso crítico americano, pergunta-se quando as comédias hollywoodianas se tornaram tão agressivas, e diz ter se sentido sujo quando o filme acabou.
Mas é interessante comparar essa "sujeira", por exemplo, com os "American Pies" da vida -que são tão ou mais "sujos", mas não chegam aos pés em termos de eficiência cômica e capacidade crítica. Vale destacar a cena em que Brennan e Dale são atacados por crianças "marrentas" e abusivas -bem como a inevitável vingança, que vem perto do fim.
Na verdade, "Quase Irmãos" pode ser visto como o mais potente ataque cinematográfico a determinados valores da era Bush. No entanto, o filme não é uniforme. Há um desnível entre as piadas e determinadas situações, e a trama, vez ou outra, se arrasta. Mas o resultado é impressionante tendo em vista seu absurdo ponto de partida e o ponto a que chega -uma comédia viva e virulenta.

Avaliação: bom



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