São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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Crítica/"Marcel Gautherot - Norte"

Mostra retrata Amazônia entre caos e ordem

Marcel Gautherot/Acervo Instituto Moreira Salles/Divulgação
"Pescadores", imagem feita em 1943, na ilha Mexiana (PA)

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Vivia a grande aventura da liberdade. Sua casa era a cidade toda, seu emprego era corrê-la." Foram frases como essa, escrita por Jorge Amado em "Jubiabá" (1935), que excitaram a imaginação e a curiosidade do fotógrafo francês Marcel Gautherot (1910-1996), então com 29 anos, e o fizeram se aventurar pelo lado de cá do Atlântico.
O resultado dessa sedução pode ser visto na mostra e no livro "Norte" (144 págs., R$ 56), que o Instituto Moreira Salles lança hoje em São Paulo com uma seleção de 72 fotografias em preto e branco realizadas pelo parisiense na região amazônica entre 1940 e 1970.
Em 1939, Gautherot começou uma viagem pelo rio Amazonas com a ideia de fotografar todo o seu curso. Convocado de volta ao país de origem em virtude da Segunda Guerra Mundial, interrompeu a viagem e retornou no ano seguinte para adotar o Brasil definitivamente como nova pátria.
Nos 30 anos seguintes, fotografou várias regiões do país, assim como monumentos e eventos como a construção de Brasília, geralmente a trabalho. Mas sempre que podia retornava à Amazônia, muitas vezes bancado por seus próprios e nada polpudos recursos.
É justamente sobre essa paixão pelo Norte do Brasil, que se inicia em Jorge Amado e termina em quase 2.500 fotos, que o escritor manauara Milton Hatoum e o professor de literatura belenense Samuel Titan Jr. se debruçaram para descobrir histórias e selecionar imagens.
Curioso que nesse percurso de Gautherot existam três pessoas ligadas à literatura. E é justamente a tentativa de estabelecer uma narrativa (literária?) e de tornar claro um estilo formal que bebe na fonte do modernismo -Gautherot, assim como Hatoum, estudou arquitetura e foi um dos principais fotógrafos a trabalhar diretamente com Oscar Niemeyer- que a edição das imagens busca suscitar. "Quem não entende de arquitetura não pode fotografar", chegou a afirmar o artista em uma entrevista.
Ao olhar documental clássico do fotógrafo, revelador de tempo e espaço precisos, soma-se o desafio de ordenar em suas composições a confusão de formas e a geometria instável da floresta. Numa das melhores passagens do livro, vemos uma sequência de igapós com galhos retorcidos refletidos no rio.
Caos e ordem digladiam-se, resultando em imagens que remetem a espécies de mandalas, no limite da abstração. O encanto e a atração pelo imprevisível e por uma cultura em formação fizeram Gautherot ter o Brasil como seu lar e grande tema. Seu emprego foi corrê-lo.


MARCEL GAUTHEROT - NORTE

Quando: de ter. a sex., das 13h às 19h, sáb. e dom., das 13h às 18h; até 21/3
Onde: Inst. Moreira Sales São Paulo (r. Piauí, 844, 1º andar, tel. 3825-2560)
Quanto: grátis
Classificação: não informada
Avaliação: bom




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