São Paulo, quarta, 25 de novembro de 1998

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CULTURA ARTÍSTICA
Regente Rafael Frühbeck de Burgos comanda Orquestra Nacional da Espanha na última apresentação do ano
Espanhóis encerram temporada de 1998

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

A Sociedade de Cultura Artística encerra amanhã, com a última das três apresentações da Orquestra Nacional da Espanha, sua temporada de 1998.
O maestro Rafael Frühbeck de Burgos e o violonista Pepe Romero apresentam desde ontem -e o farão hoje novamente- um programa de peças eminentemente espanholas.
Romero é um dos grandes solistas contemporâneos de seu instrumento, enquanto as resenhas discográficas colocam o teuto-espanhol Frühbeck de Burgos entre os 15 maestros mais versáteis e de maior rigor técnico no trato do repertório sinfônico.
Em entrevista à Folha, o regente comenta as diferenças musicais que existem entre as orquestras européias e fala sobre sua atuação no Japão.

Folha - A orquestra com que o senhor se apresenta está há quatro anos sem maestro titular. Não é indício de falta de rumo?
Rafael Frühbeck de Burgos -
Não é bem assim. De um ano para cá, como regente emérito, eu tenho feito as vezes de um maestro titular.
Essa é para mim uma função tranquila, já que fui o diretor musical da Nacional da Espanha entre 1962 a 1978.
Folha - Qual a diferença de sonoridade entre uma orquestra ibérica e outra alemã?
Frühbeck de Burgos -
Há de um lado, na Europa, as "orquestras com sonoridade latina" -a do Scala de Milão, a Nacional da França e a Orquestra de Paris, e ainda a Nacional da Espanha.
Elas todas se distinguem pela ligeireza, pelas cores, pela vivacidade no ritmo ao interpretarem certas partituras.
As orquestras alemãs e inglesas não obtêm esses mesmos efeitos. Digamos que uma orquestra alemã tem as cores de Richard Strauss, e uma orquestra latina tem as cores de Stravinsky.
Folha - Há a música espanhola feita na Espanha e a música espanhola feita fora da Espanha. No que o "Capricho Espanhol", de Rimsky-Korsakov, difere do "Concerto de Aranjuez", de Rodrigo?
Frühbeck de Burgos -
São aliás peças que interpretaremos em São Paulo. Na verdadeira música espanhola há uma autenticidade maior, embora o "Capricho" seja belíssimo e possua a harmonia da Espanha, e o "Bolero", de Ravel, seja uma música quase espanhola.
Folha - Graças a regentes como o senhor, a zarzuela (espécie de opereta espanhola) ganhou na Europa um respeito que não tinha antes. Como isso ocorreu?
Frühbeck de Burgos -
É um gênero eminentemente espanhol, com raízes na música teatral popular do século 18, enriquecida pela sofisticação da ópera italiana.
Para fazê-la bem, é preciso uma orquestra de altíssima qualidade, tanto quanto para uma ópera.
Folha - Até o ano passado, e durante cinco anos, o senhor foi o principal maestro convidado da Sinfônica Japonesa Yomiuri, de Tóquio. Como fazer música autenticamente ocidental com pessoas de tradição cultural tão diferente?
Frühbeck de Burgos -
Há no Japão uma forte e antiga tradição musical. O país é bastante culto, e essa cultura permite adaptar o conteúdo técnico da tradição às formas musicais européias.
Folha - Como o senhor, um artista "binacional" (espanhol e alemão), vê a globalização da cultura?
Frühbeck de Burgos -
Há infelizmente uma tendência de homogeneização na cultura de massa, dentro de parâmetros norte-americanos.
Mas é preciso manter a diversidade, porque ela é enriquecedora. Talvez a música erudita seja um dos caminhos isso.
²

Concertos: Orquestra Nacional da Espanha Direção: Rafael Frühbeck de Burgos, com Pepe Romero (violão) Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel. 256-0223)
Quanto: R$ 65 a R$ 120 (ou R$ 10 para estudantes, disponível meia hora antes dos concertos)
Patrocinadores: BankBoston, Bovespa e Volkswagen




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