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CULTURA ARTÍSTICA
Regente Rafael Frühbeck de Burgos comanda Orquestra Nacional da Espanha na última apresentação do ano
Espanhóis encerram temporada de 1998
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
A Sociedade de Cultura Artística
encerra amanhã, com a última das
três apresentações da Orquestra
Nacional da Espanha, sua temporada de 1998.
O maestro Rafael Frühbeck de
Burgos e o violonista Pepe Romero
apresentam desde ontem -e o farão hoje novamente- um programa de peças eminentemente espanholas.
Romero é um dos grandes solistas contemporâneos de seu instrumento, enquanto as resenhas discográficas colocam o teuto-espanhol Frühbeck de Burgos entre os
15 maestros mais versáteis e de
maior rigor técnico no trato do repertório sinfônico.
Em entrevista à Folha, o regente
comenta as diferenças musicais
que existem entre as orquestras
européias e fala sobre sua atuação
no Japão.
Folha - A orquestra com que o senhor se apresenta está há quatro
anos sem maestro titular. Não é indício de falta de rumo?
Rafael Frühbeck de Burgos - Não
é bem assim. De um ano para cá,
como regente emérito, eu tenho
feito as vezes de um maestro titular.
Essa é para mim uma função
tranquila, já que fui o diretor musical da Nacional da Espanha entre
1962 a 1978.
Folha - Qual a diferença de sonoridade entre uma orquestra ibérica
e outra alemã?
Frühbeck de Burgos - Há de um
lado, na Europa, as "orquestras
com sonoridade latina" -a do
Scala de Milão, a Nacional da França e a Orquestra de Paris, e ainda a
Nacional da Espanha.
Elas todas se distinguem pela ligeireza, pelas cores, pela vivacidade no ritmo ao interpretarem certas partituras.
As orquestras alemãs e inglesas
não obtêm esses mesmos efeitos.
Digamos que uma orquestra alemã
tem as cores de Richard Strauss, e
uma orquestra latina tem as cores
de Stravinsky.
Folha - Há a música espanhola
feita na Espanha e a música espanhola feita fora da Espanha. No
que o "Capricho Espanhol", de
Rimsky-Korsakov, difere do "Concerto de Aranjuez", de Rodrigo?
Frühbeck de Burgos - São aliás
peças que interpretaremos em São
Paulo. Na verdadeira música espanhola há uma autenticidade
maior, embora o "Capricho" seja
belíssimo e possua a harmonia da
Espanha, e o "Bolero", de Ravel,
seja uma música quase espanhola.
Folha - Graças a regentes como o
senhor, a zarzuela (espécie de opereta espanhola) ganhou na Europa
um respeito que não tinha antes.
Como isso ocorreu?
Frühbeck de Burgos - É um gênero eminentemente espanhol, com
raízes na música teatral popular do
século 18, enriquecida pela sofisticação da ópera italiana.
Para fazê-la bem, é preciso uma
orquestra de altíssima qualidade,
tanto quanto para uma ópera.
Folha - Até o ano passado, e durante cinco anos, o senhor foi o
principal maestro convidado da
Sinfônica Japonesa Yomiuri, de Tóquio. Como fazer música autenticamente ocidental com pessoas de
tradição cultural tão diferente?
Frühbeck de Burgos - Há no Japão uma forte e antiga tradição
musical. O país é bastante culto, e
essa cultura permite adaptar o
conteúdo técnico da tradição às
formas musicais européias.
Folha - Como o senhor, um artista "binacional" (espanhol e alemão), vê a globalização da cultura?
Frühbeck de Burgos - Há infelizmente uma tendência de homogeneização na cultura de massa, dentro de parâmetros norte-americanos.
Mas é preciso manter a diversidade, porque ela é enriquecedora.
Talvez a música erudita seja um
dos caminhos isso.
²
Concertos: Orquestra Nacional da Espanha
Direção: Rafael Frühbeck de Burgos, com
Pepe Romero (violão)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, região central, tel. 256-0223)
Quanto: R$ 65 a R$ 120 (ou R$ 10 para
estudantes, disponível meia hora antes dos
concertos)
Patrocinadores: BankBoston, Bovespa e
Volkswagen
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