São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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Farocki expande limites do real e do documental

Começa ciclo com nove títulos do diretor alemão

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A definição de documentário costuma ser associada a registros de situações reais, mas na obra do diretor alemão Harun Farocki é o próprio conceito do que consideramos real que vê ampliado seus limites. Talvez não se trate de documentários.
Alguns consideram os filmes de Farocki uma espécie de cinema-ensaio, equivalentes em importância aos do Godard mais recentes e aos de Chris Marker. Seus filmes são brilhantes e inquietantes -e um recorte com nove de seus trabalhos pode ser visto de hoje a domingo em mostra no CCSP.
A seleção traz títulos realizados desde 1969, mas se concentra na fase mais recente de sua produção, sempre marcada pela ênfase politizada nos temas e por uma crença ferrenha nos ideais do esclarecimento.
O ponto de partida do diretor quase sempre são as imagens, o que elas buscam representar e o que se esconde no modo como elas cristalizam determinados significados por meio de suas representações. Para isso, ele lança mão de materiais de arquivo (fotos, gráficos, documentos) e os conecta ao imenso arsenal de imagens capturadas por toda a gama de dispositivos contemporâneos (cinema, TV, games, programas de computador, câmeras de vigilância).
A intenção é, na aproximação entre os diferentes tipos de imagens, extrair delas seus sentidos subjacentes por meio do choque de significações.
É o que lhe permite, por exemplo, associar o conceito militar de alvo a uma extensa gama de capturas fotográficas no fundamental "Imagens do Mundo e Epitáfios da Guerra", que pode ser visto como um ensaio definitivo sobre o terror.
Filmes antigos são materiais recorrentes nos trabalhos de Farocki, o que lhes concede um resultado intelectual e poético, como em "Imagens da Prisão", onde se vê cenas de visitas íntimas reinterpretadas através da colagem de filmes mudos.


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