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Farocki expande limites
do real e do documental
Começa ciclo com nove títulos do diretor alemão
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A definição de documentário
costuma ser associada a registros de situações reais, mas na
obra do diretor alemão Harun
Farocki é o próprio conceito do
que consideramos real que vê
ampliado seus limites. Talvez
não se trate de documentários.
Alguns consideram os filmes
de Farocki uma espécie de cinema-ensaio, equivalentes em
importância aos do Godard
mais recentes e aos de Chris
Marker. Seus filmes são brilhantes e inquietantes -e um
recorte com nove de seus trabalhos pode ser visto de hoje a
domingo em mostra no CCSP.
A seleção traz títulos realizados desde 1969, mas se concentra na fase mais recente de sua
produção, sempre marcada pela ênfase politizada nos temas e
por uma crença ferrenha nos
ideais do esclarecimento.
O ponto de partida do diretor
quase sempre são as imagens, o
que elas buscam representar e
o que se esconde no modo como elas cristalizam determinados significados por meio de
suas representações. Para isso,
ele lança mão de materiais de
arquivo (fotos, gráficos, documentos) e os conecta ao imenso
arsenal de imagens capturadas
por toda a gama de dispositivos
contemporâneos (cinema, TV,
games, programas de computador, câmeras de vigilância).
A intenção é, na aproximação
entre os diferentes tipos de
imagens, extrair delas seus sentidos subjacentes por meio do
choque de significações.
É o que lhe permite, por
exemplo, associar o conceito
militar de alvo a uma extensa
gama de capturas fotográficas
no fundamental "Imagens do
Mundo e Epitáfios da Guerra",
que pode ser visto como um ensaio definitivo sobre o terror.
Filmes antigos são materiais
recorrentes nos trabalhos de
Farocki, o que lhes concede um
resultado intelectual e poético,
como em "Imagens da Prisão",
onde se vê cenas de visitas íntimas reinterpretadas através da
colagem de filmes mudos.
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