São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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"Não quero mais ser vista como atriz revelação"

Destaque de público e crítica na França, Clotilde Hesme está no filme "Canções de Amor", de Christophe Honoré

Aos 28 anos, atriz diz querer "exercer a profissão a longo prazo'; filme passa hoje no Panorama do Cinema Francês, no Reserva Cultural

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela pode ser uma escultora de ar grave envolvida com os acontecimentos de Maio de 68. Ou um dos vértices de um triângulo amoroso nada comum, personificando uma jornalista de comportamento bastante liberal.
Respectivamente, a artista plástica Lilie é uma das protagonistas de "Amantes Constantes", de Philippe Garrel, e a outra jovem, Alice, é uma das atrizes principais de "Canções de Amor", de Christophe Honoré. Ambos os papéis são interpretados pela francesa Clotilde Hesme, 28.
Hesme é uma das revelações da interpretação francesa. Ao fazer esses dois longas tão diversos em seqüência, foi elogiada por público e crítica, sendo indicada por sua atuação em "Canções..." ao César, o principal prêmio de cinema na França, na categoria de atriz mais promissora, em cerimônia ocorrida em fevereiro passado.
"Isso é agradável, é claro, é como receber notas boas no colégio, mas tenho pressa em já não mais ser vista como revelação ou como a nova atriz em ascensão. Quero apenas exercer minha profissão e fazê-lo a longo prazo, pelo maior tempo possível", diz ela em entrevista por e-mail à Folha, de Paris, onde mora, antes de ter embarcado para o Brasil e participado do evento Panorama do Cinema Francês, em que apresentou "Canções...".
O título estréia no circuito brasileiro em setembro próximo, mas tem sua última exibição hoje, às 19h40, no Reserva Cultural.
Para a atriz, o fato de ter participado de dois longas tão distintos não indica que haja métodos discrepantes na composição dos personagens. ""Canções..." e "Amantes..." são dois filmes bastante diferentes, mas não tão diversos na maneira com a qual os atores foram dirigidos. Honoré é grande admirador de Garrel, e os dois diretores têm uma maneira semelhante de enxergar os atores e captar aquilo que emana deles. Os dois se interessam mais pelo que o ator esconde que por aquilo que ele mostra. Para mim, a única coisa fundamentalmente diferente foi que eu era um pouco mais extrovertida, em um veio mais cômico, no personagem do filme de Honoré."
Amiga de Louis Garrel desde a época de conservatório de arte dramática, com quem contracena em "Amantes..." e "Canções..." e que é um rosto bem mais conhecido do público brasileiro -estrelou "Os Sonhadores", de Bertolucci-, Hesme não poupa elogios a ele. "Ele é um dos atores mais surpreendentes da sua geração. É espantoso e imprevisível.
Costuma criar "acidentes" em suas atuações, com ele você precisa sempre permanecer receptiva e reativa. É meu amigo, gosto da sua fantasia."

Frescor
Hesme vê diálogos entre Honoré e Garrel ao comentar como foram as filmagens de "Canções...", realizadas no 10º arrondissement da capital francesa, um bairro popular.
"Em poucos casos tivemos autorização para filmar. As cenas nas ruas nunca eram bloqueadas, o que também permitia que a vida circulasse e os atores respirassem livremente. Garrel também não fecha nunca o acesso aos lugares onde roda seus filmes", conta ela.
A atriz considera a produção de Honoré "completamente original e livre" e minimiza as comparações com outros musicais, como os dirigidos por Jacques Demy. ""Canções..." não é realmente uma comédia musical, os atores cantam de vez em quando.
As faixas são verdadeiras, não são diálogos cantados."
Hesme também poderá ser vista em "De La Guerre", mais recente filme de Bertrand Bonello ("Tirésia"), e é presença certa no novo filme de Honoré após "La Belle Personne" (este estréia em setembro na França), que será rodado em 2009.


Colaborou LUCAS NEVES , da Reportagem Local

Tradução de CLARA ALLAIN

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