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MOSTRA SESC DE ARTES - LATINIDADES
Até 31/8, 18 grupos de dança, de dez países diferentes, se apresentam em SP
Muitas diferenças que nem sempre fazem a diferença
Divulgação
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Coreografia apresentada pelo grupo Koffi Kôkô na Mostra Sesc de Artes - Latinidades |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
"Latinidades ", no sentido
estrito: diz respeito aos habitantes do Lácio (os antigos romanos) ou os que foram influenciados por sua civilização. Só na
dança são 18 companhias, de Cabo Verde, França, Brasil, Suíça,
Argentina, Venezuela, Colômbia,
Espanha, Uruguai e Benin.
Até domingo passado, apresentaram-se cinco grupos internacionais: Koffi Kôkô, Raiz de Polon,
Cie. à Fleur de Peau, Cia. Buissonnière e Danza Hoy.
Em "Ça" (Isso), Koffi Kôkô (da
França e Benin) busca sua força
no universo místico de um oráculo africano. Sempre um terreno de
risco; o sentido ritualístico escapa
da dança. A movimentação é
plástica, mas, para os de pouca
mística, não parece um tanto gratuita?
Raiz de Polon (Cabo Verde)
apresentou "Duas Sem Três". Inspirado num texto de Mário Lúcio
Souza, o espetáculo utiliza canto,
palavra e corpo para falar da vida
dura de todo dia. Em cena, baldes,
vassouras e galhos, trabalhados
com iluminação rica. De uma fala
sobre musas, cujos nomes "ninguém nunca lembrou", a dança
avança até a grande cena de duas
intérpretes-criadoras (Bety Fernandes e Rosy Timas) enrolando-se num gigantesco véu e repetindo interminavelmente "comigo
não casaram". Dureza e pureza.
A Cia. À Fleur de Peau (Brasil e
França), bem conhecida por aqui,
trouxe "Um Ange Passe-Passe ou
Entre Les Lignes Il y a Un Monde". Tudo branco: figurinos, tapete, mesa, tela ao fundo. Só há cor
nos objetos -e no movimento.
Comunicação e silêncio na vida
de um casal, com gestos precisos e
expressivos. Poesia madura de
uma dupla em grande forma.
Do coreógrafo Cisco Aznar, a
Cia. Buissonnière (Suíça e Espanha) dançou "Lola La Loca", que
joga em cena o imaginário surreal, do grotesco ao trágico, sempre verborragicamente. Preconceitos e hábitos postos em xeque:
qual nossa relação com a morte,
com o sexo, com a vida? O que representa cada figurino que portamos? Lola é uma mulher-cabra;
transita entre o palco e a tela ao
fundo, como entre o real e o sonho, articulando relações com diversos estereótipos latinos. A própria dança é a caricatura de si
mesma -o que, no caso, acaba
sendo um limite, não uma virtude.
Da Venezuela, a Companhia
Danzahoy ("Dança-hoje") trabalha com a linguagem moderna
(não propriamente "de hoje"),
embalada pelo tango em "Êxodo". Imagens em movimento são
projetadas sobre os corpos, muitas vezes estáticos. O "êxodo" refere-se aos "exílios da alma" do
homem contemporâneo, que vive
nas cidades. Gestos buscam expressividade onde faltam as palavras; previsivelmente acabam
presos à mímica. A rota do sentido é difícil.
Se é verdade que o que se viu até
aqui, na Mostra Sesc de Artes - Latinidades, nem sempre teve a qualidade esperada, não deixa de ser
verdade também que esse intercâmbio é precioso. O provincianismo começa sempre em casa. O
estranho faz sempre diferença
-seja para confirmar verdades
nossas, seja para fazer, quem sabe, um dia, verdadeira diferença.
Mostra Sesc de Artes - Latinidades
Onde: nas unidades do Sesc (inf., tel.: 0800-118220, ou pelo site
www.sescsp.org.br
Quando: até 31 de agosto
Quanto: preços variados
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