São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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32ª Mostra de SP

Crítica/"La Rabia"

Filme argentino lança olhar implacável sobre o mundo do macho dos pampas

Divulgação
Conflito entre fazendeiros vizinhos move a trama de "La Rabia', quarto longa de Albertina Carri

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Nos pampas argentinos, dois modestos fazendeiros vizinhos -ou empregados do mesmo patrão ausente- vivem às turras por conta de pequenas invasões recíprocas, ou da morte das aves de um pelos cães do outro.
Por trás dessas questões comezinhas, o atrito de vizinhos é alimentado por uma tensão erótica subterrânea. Pichón (Javier Lorenzo) vive só com o filho (Gonzalo Perez) e costuma levar mulheres para casa.
Poldo (Victor Hugo Carrizo), por sua vez, mora com a mulher, Alejandra (Analia Couceyro, de "O Passado"), e a filhinha muda Nati (Nazarena Duarte).
Assim como Pichón oprime com broncas e tabefes o filho-escravo, Poldo agride a mulher e aterroriza a filha com lendas como a do homem sem cabeça que persegue as meninas que se despem ao ar livre (passatempo favorito de Nati). O que Poldo não sabe, mas decerto intui ou teme, é que Alejandra é amante de Pichón.
A diretora Albertina Carri, 35, descreve esse mundo macho um pouco à maneira de sua compatriota Lucrecia Martel, meio de lado, captando a ação já iniciada e abandonando-a antes de concluída. Um olhar oblíquo, lacunar.

Sexo e sangue
Só que aqui tudo é mais explícito, do sexo à matança dos animais, perfazendo um arco de brutalidade que tem como elos frágeis as duas crianças, de cujo ponto de vista, de certo modo, a história é narrada.
Incapaz de falar, Nati se expressa por meio de desenhos sangrentos, povoados de monstros e mutilações. Em certos momentos, esses pesadelos gráficos ganham animação na tela, mais ou menos como ocorria em "Nina", do brasileiro Heitor Dhalia.
O mundo do "gaucho", cantado em verso e prosa na cultura tradicional argentina, é despido aqui de todo heroísmo e grandeza. Submetido ao olhar mudo e implacável de uma criança, o que sobra é um "baixio das bestas".
Em tempo: o produtor de "La Rabia" é Pablo Trapero, alvo de uma bela retrospectiva nesta 32ª Mostra de São Paulo.


LA RABIA
Quando: hoje, às 13h30, no Cinesesc; amanhã, às 15h30, no Ig Cine; quinta, às 16h, no Centro Cultural São Paulo
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: bom



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