São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Olhar humano guia mostra com fotos da indústria automobilística

Exposição reúne imagens feitas pelo francês Robert Doisneau nos anos 30 e 40

Robert Doisneau
Garotas e homem lavam modelo Dauphine em ensaio publicitário
para a Renault em 1956


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas décadas antes de fotografar o beijo mais famoso das ruas de Paris, Robert Doisneau (1912-1994) trabalhava na fábrica da Renault. Usava câmera sem obturador -uma boina fazia o serviço- para registrar a vida na linha de montagem e, de quebra, uns ensaios publicitários para a marca de carros.
Ficou provado mais tarde que "O Beijo do Hotel de Ville", fotografia que fez em 1950, não foi um flagrante em frente à prefeitura, e sim uma cena posada com modelos.
Do mesmo jeito que na fábrica da Renault arranjava e rearranjava os melhores operários em linha, mexia nas máquinas e fazia brilhar a carroceria dos carros para seus instantes, senão decisivos, calculados.
Toda a mise-en-scène em torno da indústria automobilística francesa aparece nas mais de cem fotografias reunidas agora no Centro Cultural Fiesp.
Também surge nessas imagens traços formais da obra do fotógrafo que ganhariam expressão máxima só décadas depois.
"Ele tinha uma visão muito humanista, otimista", afirma a curadora Ann Hindry. "Queria um mundo mais humano."
Nesse ponto, seus retratos de gente comum se aproximam do estilo de Walker Evans. Mas enquanto o norte-americano esquadrinhava a miséria, Doisneau buscava certa leveza. "Suas imagens são mais cinematográficas", diz Hindry. "Há uma agilidade, flexibilidade."
É quando desengessa seus registros, então livres dos vícios formais que aprendeu com os modernistas, que Doisneau atinge essa espontaneidade.
Retrata uma vitrine da Renault na Champs-Elysées com uma multidão se espremendo do lado de fora para observar os carros -contraponto entre o mundo real e o luxo lá dentro.
Mas faz isso sem qualquer panfletarismo. Ele enxerga o próprio colarinho branco e se recusa a fotografar as greves que abalaram a periferia parisiense. Depois registra belas donzelas com os automóveis: curvas de carne para vender curvas metálicas sobre rodas.


A RENAULT DE DOISNEAU

Quando: abertura hoje, às 19h30; seg., 11h às 20h; ter. a sáb., 10h às 20h; dom., 10h às 19h; até 6/12
Onde: Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313, tel. 3549-4499)
Quanto: entrada franca




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