São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011 |
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA TEATRO Corneille faz reflexão sobre a representação da vida Dramaturgo rompeu dogmas em 'A Ilusão Cômica', em cartaz em SP
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA O teatro confundido com a vida. "A Ilusão Cômica", de Pierre Corneille (1606-1684), brinca com essa confusão. Ao encenar a peça pela primeira vez no Brasil, a Cia. Razões Inversas e seu mentor, Marcio Aurelio, concretizam um espetáculo impecável. Corneille escreveu principalmente tragédias, mas se permite aqui flertar com a mistura de gêneros e desafiar os rígidos princípios do teatro no século 17. Na publicação da peça, em 1639, referiu-se a ela como um monstro, em que "o primeiro ato não passa de um prólogo, os três seguintes constituem uma comédia imperfeita, o último é uma tragédia, e tudo isso recosido em conjunto faz uma comédia". A característica monstruosa o aproximava de Shakespeare, à época rejeitado na França, e permitia que ele dialogasse com a commedia dell'arte italiana. Ao propor um jogo de espelhos, de cenas ficcionais que acabam por se assumir como representação teatral, ele tanto rompeu dogmas como driblou os impedimentos a essa ruptura. A encenação de Marcio Aurelio enfrenta com inteligência e sensibilidade o desafio de lidar com a metalinguagem da trama (teatro dentro do teatro). Simplifica a cenografia e faz o texto emergir cristalino. A boa tradução de Valderez Cardoso Gomes transpõe versos elípticos para uma ordem direta, sem perder o ritmo e a qualidade poética. Os ótimos atores da Razões Inversas, apoiados por atrizes e atores convidados, colaboram nessa ênfase na enunciação e na clareza da narrativa -a história do pai que rejeitou o filho e o reencontra nas imagens que um mágico projeta no fundo de uma caverna e que contam suas peripécias amorosas e financeiras. O fantástico da situação não impede que o apresentado se mostre verossímil. Destaque especial para os figurinos quase atemporais, que contribuem para atualizar as ações narradas. De extremo bom gosto, são decisivos para o desenvolvimento da trama sem mutações cenográficas. Também entusiasma a modernidade de um texto de quase 400 anos. Ela sobressai na reflexão de Corneille sobre a teatralidade e nos temas que inaugura precocemente, como, por exemplo, as contradições de uma nascente moral burguesa. A vida é uma representação, e o teatro só espelha essa circunstância. A ILUSÃO CÔMICA QUANDO sex. e sáb., às 19h30, e dom., às 18h; até 30/10 ONDE Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112; tel. 3113-3651) QUANTO R$ 10 CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO ótimo Próximo Texto: Metá Metá lança álbum no Sesc Pompeia Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |