São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

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Mostra aborda o design de João Baptista Aguiar

Artista criou logomarcas para editoras e órgãos públicos, como a Prefeitura de SP

Nos anos 80, ele liderou reforma na programação visual de capas de livros; em 1991, fez cartaz para os cem anos da avenida Paulista


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os anos 80 representaram uma grande transformação do mercado editorial brasileiro, em parte pelo fim da ditadura, que trouxe maior liberdade para a publicação de títulos até então censurados, em parte pela profissionalização do segmento. Entre os profissionais que marcam esse momento, João Baptista da Costa Aguiar é referência obrigatória. Sua produção, como criador de logomarcas, capas e cartazes, poderá ser vista de maneira organizada, a partir de amanhã, tanto na publicação "Desenho Gráfico (1980-2006)", com texto de Ethel Leon, como em mostra, ambas lançadas no Instituto Tomie Ohtake.
Autor da ousada logomarca da editora Companhia das Letras, Aguiar criou dez imagens distintas para tal logomarca, todas com veículos de transporte, ao contrário do que reza o marketing de que uma empresa deva ter uma imagem única.
Junto de Etorre Bottini e Moema Cavalcanti, entre outros, Aguiar protagonizou ainda uma grande mudança na programação visual dos livros com a Companhia das Letras, tornando-os mais atraentes, o que ele mesmo já vinha realizando, menos radicalmente, na Brasiliense. Foi o momento que, na publicação, Leon aponta como aquele em que se atravessou a "divisa que separava os "artistas gráficos" e "diagramadores" dos designers".
"Nós já estávamos maduros, creio que estávamos no lugar certo, na hora certa, pois o que estava mudando mesmo era o mercado de livro, o começo do que se pode chamar de "boom'", disse Aguiar à Folha, durante a montagem da mostra.
A exposição segue a organização do livro, que aponta para as várias facetas do ofício de Aguiar, tendo início com a relação entre desenhos de capas e mapas, como a série de capas para livros de Guimarães Rosa, publicados pela Nova Fronteira, nos quais peles de vaca tornam-se possíveis territórios. Mapas estão presentes em
vários trabalhos de Aguiar e possuem uma relação com sua obra criada para órgãos públicos, como a que realizou durante o governo Luiza Erundina, particularmente para a Secretaria Municipal da Cultura, que tinha à frente a filósofa Marilena Chaui.
Em 1991, por exemplo, ao criar um cartaz para os cem anos da avenida Paulista, Aguiar utilizou uma imagem da cidade, curiosamente idêntica às que podem ser observadas no Google Earth, muito antes de a ferramenta ter sido criada.
Foi para a Secretaria da Cultura, aliás, que Aguiar criou outro logomarca "serializada", ou seja, que tinha várias imagens distintas, da mesma forma que a criada para a Companhia das Letras.
Também foi dele a criação da logomarca da própria gestão Erundina, que tinha como imagem central um detalhe do monumento de Victor Brecheret que fica em frente ao parque Ibirapuera.
Apesar disso, suas obras mais reconhecidas são mesmo as capas de livros. Após ter ultrapassado a casa das mil, Aguiar perdeu as contas de quantas fez.
Tanto no livro como na mostra são apresentados certos autores freqüentes com os quais o designer trabalha, como Nelson Rodrigues, John Updike e Paul Auster. "A capa dos livros é um dos espaços mais privilegiados, pois, enquanto o desenho de um jornal dura um dia e o de uma revista, um mês, a capa de um livro dura pelo menos dez anos na casa de uma pessoa", conta Aguiar. De fato, dificilmente um leitor assíduo não vai ter uma capa assinada pelo designer em casa.


DESENHO GRÁFICO (1980-2006)
Lançamento:
amanhã, às 20h (convidados), Instituto Tomie Ohtake
Autor: João Baptista da Costa Aguiar
Editora: Senac
Quanto: R$ 90 (258 págs.)

JOÃO BAPTISTA DA COSTA AGUIAR
Quando:
abertura amanhã, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 1º/4
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, tel. 2245-1900)
Quanto: entrada franca


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