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ERUDITO
Mezzo-soprano se apresenta hoje e amanhã no Sesc, em concerto em que seu canto "ao vivo" é sobreposto a gravações
Kieffer processa e reprocessa voz em show
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A mezzo-soprano Anna Maria
Kieffer lança com espetáculos hoje e amanhã, no Sesc Vila Mariana, o CD "Caminhos da Voz", que
é em verdade o resultado de um
projeto de pouco mais de duas décadas em que intérpretes se sobrepõem a gravações de suas próprias vozes transformadas por
meios eletroacústicos.
Não será apenas um concerto.
Além de Kieffer e do baixo Eduardo Janho Abumrad, as peças do
compositor belga Leo Kupper serão "encenadas" sob a direção de
Caio Gaiarsa e servirão de motivação para que três artistas plásticos - Alessandra Galasso,
Eduardo Campos e Chico Escher- produzam durante o espetáculo formas em movimento.
Kieffer é cantora lírica e pesquisadora com dupla carreira. De um
lado, foi quem se interessou e gravou peças do período colonial
brasileiro e canções de Alberto
Nepomuceno. De outro lado, integrou as vanguardas musicais a
partir dos anos 70 e foi a responsável por duas sínteses de correntes musicais contemporâneas
-John Cage e o minimalismo-
em bienais dos anos 80. A seguir, a
entrevista da cantora.
Folha - Como definir "O Caminho
da Voz"?
Anna Maria Kieffer - A partir de
1982 eu e o Leo Kupper iniciamos
um trabalho em busca da "música
fonética", que trabalha com fonemas e ruídos, técnicas não ocidentais e cria um texto sem significado semântico.
Folha - Como se dá concretamente a apresentação?
Kieffer - Eu já trabalhava com a
busca de novos sons para a voz,
embora minha formação seja a de
cantora lírica tradicional. Desenvolvi um trabalho no instituto de
Bruxelas que Kupper dirige. As
gravações foram retrabalhadas
por meio de mídias digitais.
Quanto ao espetáculo propriamente dito, são a minha voz e a
voz do Eduardo Abumrad que
são reproduzidas ou reprocessadas, e sobre elas as nossas vozes se
enunciam em tempo real.
Folha - Ou seja...
Kieffer - ...Temos um material de
base, que foram criações vocais
minhas, em estúdio. Essas criações foram retrabalhadas em mídias digitais. E durante o espetáculo eu me sobreponho a essa base sonora com a minha voz em
tempo real.
Folha - Qual é hoje o público dessa "vanguarda"?
Kieffer - Eu já não chamo mais
isso de vanguarda. Essa palavra já
morreu. É algo diferente, com outra visão de trabalho. É pesquisa.
Há o encontro, no espetáculo, da
música com as artes plásticas.
Folha - Uma parcela da juventude
sem formação erudita se aproxima
desse trabalho pelo apego que ela
tem à música eletrônica?
Kieffer - Acabei de fazer uma
obra com o Vanderlei Lucentini.
Foi uma trilha sonora para uma
exposição. Alguns DJs me ligaram
e pediram permissão de utilizar
esse trabalho. Eu não imaginava
que fosse dar essa volta. Há alguns
anos eles não eram o meu público. Mudamos todos, e hoje nos
encontramos. Eu fico feliz, vejo isso com muitos bons olhos.
Folha - Como conciliar essa faceta
de sua carreira com a parte mais
tradicional, da música colonial ou
de Alberto Nepomuceno?
Kieffer - Não vejo tanta diferença assim. Em termos de música
antiga do Brasil, há uma recriação
de obras esquecidas. Há filtros
nessa recriação. Fazer isso é tão
interessante e tão importante
quanto o trabalho com a música
completamente nova.
ANNA MARIA KIEFFER. Onde: Sesc Vila
Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000).
Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto:
de R$ 5 a R$ 15.
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