São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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TEATRO

Estréia hoje montagem do grupo Folias d'Arte que vê relação criador e criatura no mundo contemporâneo

Espetáculo reconstrói o velho monstro

Divulgação
Cena de "Frankenstein", peça que estréia hoje no Galpão do Folias, no bairro de Santa Cecília


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A universal história do doutor Victor Frankenstein, imortalizada pela escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851), ganha uma leitura sócio-política do grupo Folias d'Arte. "Frankenstein", que estréia hoje no Galpão do Folias, em Santa Cecília, com dramaturgia e direção de Reinaldo Maia, aborda a relação criador-criatura como um instrumental crítico para pensar as novas questões colocadas para a humanidade neste início de século, pelo desenvolvimento científico-tecnológico.
Para Maia, 50, a metáfora do desejo de criar a própria natureza na busca da imortalidade serve para investigar "o resíduo do homem que, criatura, busca também se recriar ao longo da história".
Segundo Maia, "isso envolve também a gente que produz cultura. De alguma maneira, pretendemos criar um mundo melhor por meio da arte".
Além das implicações éticas e morais por traz da evolução científica e tecnológica do mundo contemporâneo, o autor e diretor destaca o "nó dramático" que representa o ato da criação: a soberba exercida por aquele que controla o processo de gestação, tal qual o Frankenstein que experimenta reanimar tecidos mortos e gesta um monstro com o cérebro de um gênio pesquisador.
"De certa forma, a própria soberba determina um distanciamento da realidade, da sociedade, o que gera exclusões, privilégios, desigualdades", diz Maia.
Para ele, a própria Mary Shelley, filha de um intelectual liberal na Inglaterra do século 19, absorve tais contradições. "Os ingleses olhavam com carinho a Revolução Francesa, mas depois recuaram por causa do novo, do "monstro" que determinaria a quebra de cânones ocidentais."
Em "Frankenstein", Valdir Rivaben interpreta o papel-título, enquanto Gisele Valeri (Igor, o assistente) e Janaína Peresan (Criatura) assumem os demais papéis.
O espetáculo faz interface com o vídeo em algumas passagens, contrastando o que é realidade e ficção. A cenografia de Ulisses Cohn explora o espaço de palco italiano e utiliza as passarelas do galpão para sugerir o castelo. Os figurinos são de Adriana Chung.


FRANKENSTEIN - De: Mary Shelley. Adaptação e direção: Reinaldo Maia. Com: grupo Folias d'Arte. Onde: Galpão do Folias (r. Ana Cintra, 213, Santa Cecília, tel. 3361-2223). Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. R$ 15. Até 29/9.



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