São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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CCBB faz ciclo de cinema japonês contemporâneo

"Japão Pop" exibe 11 longas inéditos no Brasil, feitos entre 2000 e 2005, de diretores como Ryosuke Hashigushi

Filmes abordam temas caros ao país, como feminismo, cultura pop, estrutura familiar e modernidade em oposição à tradição secular


Divulgação
Nao Omori e Shinobu Terashima em "Vibrator", sobre mulher que acompanha um caminhoneiro


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dono de uma produção cinematográfica que nos anos 50 competia em pé de igualdade com EUA e Europa, o Japão anda tímido, com as prováveis exceções de nomes restritos a cineclubes, como Takeshi Kitano, ou a DVDs importados, como Kiyoshi Kurosawa.
Não é de estranhar que a busca por identidade e a decadência sejam alguns dos termos essenciais para entender parte dos 11 filmes exibidos pela mostra "Japão Pop", que começa amanhã no CCBB. Inédito no Brasil, este importante ciclo traça um recorte da produção japonesa contemporânea.
Mais do que renovação ou ousadia formal, "Japão Pop" faz uma radiografia das contradições que movem os jovens adultos. Se gerações anteriores viram uma nação devastada e humilhada pela guerra, a atual é testemunha e filha da crise econômica dos anos 90.
Por isso um dos filmes mais emblemáticos desta seleção é a irregular comédia "Otakus in Love", de Matsuo Suzuki. O termo "otaku" em grande parte define a cultura contemporânea do Japão, já que se refere ao grupo de ávidos consumidores/colecionadores, em particular de mangás e seus subprodutos, que emergiram nos anos 70. Na trama, dois jovens obcecados por essa cultura vivem à margem da sociedade tradicional e tentam ficar juntos.
Já o ótimo "Hush!", de Ryosuke Hashigushi, aborda outra forma de amor, não menos marginal. Ao contar o encontro do casal gay formado pelo tímido Katsuhiro e o liberal Naoya com a suicida Asako, "Hush!" extrapola o rótulo de "cinema gay". Hábil, Hashigushi põe em xeque as estruturas familiares convencionais, revelando suas fraturas e as novas possibilidades ainda não-assimiladas.
E, se na vida real a sociedade japonesa ainda é celebre pelo papel secundário que reserva à mulher, os filmes "Female", "Vibrator" ou "Tokyo Noir" -que vê o limbo habitado pela mulher trintona que não se casa, ou o limbo das casas de prostituição com estudantes que exploram o fetiche por colegiais- lançam reveladores e ousados olhares femininos.


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