São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Baiano mostra no Sesc Vila Mariana composição nova, em que brinca com a medicina e "registra" sua originalidade

Tom Zé leva "remédio" e "cartório" a show

Debby Gram/Divulgação
O cantor e compositor baiano Tom Zé, que se apresenta hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana


PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

O remédio, nos anos 60, já foi a bossa, dizia o título de um show universitário paulistano. Mas os médicos persistiram e os sintomas tiveram de ser consultados, no trocadilho de Tom Zé, que se apresenta hoje e amanhã no Sesc Vila Mariana. A abertura fica por conta do Mestre Ambrósio.
No show, intitulado justamente "Persistindo o Médico, os Sintomas Deverão Ser Consultados", o baiano de 65 anos volta ao palco pela primeira vez depois da fatídica performance de 21 de abril último, no Abril pro Rock, em Recife, quando foi hospitalizado. Um colapso cardíaco o abateu. Ele foi operado no mesmo dia.
Atendeu ontem a Folha, aliás, ao que parece, algo adoentado. Disse estar um pouco gripado. Afasta, no entanto, possibilidades de recaídas mais substanciosas.
"Como fui operado uma hora depois do ocorrido, não tive infarto, não tive nada. Estou em plena forma...", afiança.
A novidade da vez no Sesc Vila Mariana -se é possível manter o termo no singular em se tratando de Tom Zé- consiste numa música nova, cujo nome lembra bastante o do show (leia letra no quadro desta página). Os pernambucanos do Mestre Ambrósio retornam à cena para interpretá-la em companhia do músico.
As referências brincalhonas não se restringem, entretanto, à medicina. Vazam também para as bandas do direito, outro ofício ilustre.
"Agora há a coisa do direito autoral, que está questão. Estou cansado de ver minhas idéias gozando com o palco dos outros", repete, fazendo outro jogo de palavras. Declara estar pensando numa espécie de "show-cartório", no qual seria "registrada" a originalidade de suas criações.
Retornando aos remédios, afirma que o assunto já o inquietava antes de precisar dos médicos.
"Estava louco para fazer alguma coisa com essa brincadeira. Começou um pouco antes de 21 de abril. Quando ouvi no rádio que toda propaganda de remédio popular tinha essa ressalva, dos sintomas, disse: meu Deus, será que isso vai se repetir todo dia? É uma poluição. Fiquei com uma angústia de ouvir aquilo toda hora e doido para fazer uma malandragem com aquilo. Aí me lembrei logo de fazer. Tanto que, quando estava doente, pensei: por que não coloquei isso no meu show no Abril pro Rock? Daqui a pouco morro e não uso essa pilhéria."
Tom Zé a mostra no palco caracterizado. "Visto uma máscara de bandido, boto uma faixa presidencial e canto a canção com armas na mão. Considerando também que temos um candidato que veio dos remédios, tinha esperança de que o próprio título remetesse a isso", conta, referindo-se às imbricações políticas sempre manifestas em seus espetáculos.
No repertório, calcado nas faixas do CD "Jogos de Armar", estão previstas "Conto de Fraldas" "Medo de Mulher", "Chamegá" (com Vicente Barreto), "Asa Branca" (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e outras.


TOM ZÉ E MESTRE AMBRÓSIO. Onde: Sesc Vila Mariana - teatro (r. Pelotas, 141, tel. 5080-3147). 608 lugares. 21h. Quando: hoje e amanhã, às 21h. Quanto: de R$ 7,50 a R$ 20.



Próximo Texto: A música nova
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.