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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Driblando problemas, animação cresce e alimenta sonhos de uma nova geração

Injeção de ânimo

Divulgação
Cena do longa-metragem "O Grilo Feliz", de Walbercy Ribas, que, por falta de apoio, levou 20 anos para ser concluído, em 2001


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A animação é um vírus. Inoculada em veteranos como Walbercy Ribas, Arnaldo Galvão e Cesar Coelho, se espalhou como uma praga. Cultivou no Brasil um dos maiores festivais do gênero, viu formar a primeira associação nacional de animadores e, pior, foi injetada na alma de uma nova geração de profissionais que começa agora a dar as caras.
"É uma coisa que bate no sangue", crava o pioneiro Walbercy Ribas, 60, que aos 17 anos fez o seu primeiro comercial animado para a TV Tupi e hoje é dono do estúdio Start, em SP. "Não tem jeito, a animação é uma doença que não tem cura", brinca Cesar Coelho, 43, um dos quatro diretores do festival Anima Mundi, que termina hoje em SP, e dono da produtora Campo 4, no Rio.
Diante de "um cenário mil vezes melhor" do que quando começou a se aventurar na área, o ex-futuro engenheiro profetiza: "Alguma coisa nova está acontecendo, de uma maneira definitiva".
Cara, trabalhosa e ainda bem menos difundida no país do que muitos gostariam, a animação continua atraindo profissionais para as suas fileiras -haja visto o crescimento do número de trabalhos inscritos a cada edição do festival. Pergunta-se: por quê?
"Desde pequeno eu ia para o estúdio do meu pai e ficava desenhando, até que ele comprou um computador...", lembra Rafael Ribas, 24, que, aos 15, foi ajudar o pai a animar uma peça publicitária em 3D e até hoje não parou.
"Eu não sei se faria outra coisa", emenda Thomas Larson, 25, que, em três anos na área, ganhou um Mapa Cultural Paulista com o curta "A Odisséia de uma Vaca", participou de dois Anima Mundi, mas continua sem o reconhecimento merecido em sua própria cidade natal, Ribeirão Preto.
"Ficou uma coisa esquisita, a gente ficou conhecido no resto do país, mas nem o jornal local cobriu", lembra seu sócio Rogério Sousa, 26. "O que a gente quer é difícil: fazer animação em um lugar onde não há animação."
Autodidata, o gaúcho Allan Sieber, 31, fundou em 1999 a produtora independente Toscographics, participou de dois longas de Jorge Furtado -são deles as animações do recente "O Homem que Copiava"- e também não reclama. "Eu vivo disso, mas não fiquei rico, não. Talvez o maior problema seja o fato de a animação estar muito associada a crianças. Uma animação "para adultos" gera uma estranheza. Tipo, "Ué, mas como esse ursinho fofinho está sendo sodomizado? Nunca vi isso!!'", diverte-se o autor do curta "Deus É Pai", premiado no Anima Mundi de 2001.
Depois de esperar 20 anos para viabilizar o seu "Grilo Feliz", longa infantil baseado nos personagens que criou para uma campanha da Sharp, nos anos 80, Ribas-pai desabafa: "Meu sonho é fazer algo na linha de "The Wall". O infantil tem mais apelo, mas ainda vou fazer um filme cabeça, mais ligado ao rock e à juventude. Dá para voar muito mais longe".


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