São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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TEATRO

"Espetáculo musicado" que estréia hoje aborda reminiscências e experiências vividas por integrantes do grupo

"Interior" extravasa memórias do Tusp

João Caldas/Divulgação
O ator Alexandre Lima em cena do espetáculo "Interior"


PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Como recurso para a construção de papéis, a memória no teatro sempre foi matéria-prima. Utilizá-la como material dramático e transformar atores em personagens de si mesmos são as intenções do espetáculo "Interior", que estréia hoje.
É a sétima produção do Tusp (Teatro da Universidade de São Paulo), grupo que completa seis anos. Ligada à pró-reitoria de Cultura e Extensão da universidade, a companhia se profissionalizou há dois anos, mantendo também oficinas abertas a interessados em teatro.
"Interior" parte de pesquisa sobre as vivências dos integrantes do conjunto, que desencavaram lembranças dolorosas e divertidas. Sem uma história linear, contando com cenas curtas e flashbacks, a peça tem direção e dramaturgia de Abílio Tavares.
A direção musical é de Pedro Paulo Bogossian ("O Gato Preto"). Costurando os episódios, há uma trilha sonora que inclui Rita Lee, Walter Franco, Zé Rodrix e Secos & Molhados.
"Não é um musical no sentido da estrutura clássica do gênero, a música não tem função narrativa. Diria que é um espetáculo musicado, a música entra como referência à juventude dos pais dos atores", diz Tavares, 40. Uma banda executa as canções ao vivo no palco. Os atores as cantam.
O espetáculo integra uma tetralogia do Tusp que pretende abordar os quatro elementos. A água foi representada por "Horizonte" (2000). A montagem da vez fala do elemento terra. Fogo e ar estão prometidos para 2004 e 2006, respectivamente.
Num processo que durou 18 meses e que inicialmente parecia, segundo o diretor, desaguar numa peça "caipira", por tratar do telúrico, "Interior" foi aos poucos tomando outro rumo.
Com um exercício proposto aos atores de escrever cartas aos pais e às mães para depois improvisar cenas, descobriu-se que o caminho talvez fosse partir de reminiscências enraizadas e muitas vezes negadas inconscientemente.
"No começo ninguém tinha memória nenhuma. Ninguém lembrava de nada. Aos poucos os bloqueios foram sumindo."
Segundo Abílio Tavares, embora algumas cenas sejam dolorosas, envolvendo violência familiar e más recordações, de parto difícil e criadoras de conflitos dentro do grupo no processo de criação, o espetáculo tem como contraponto cenas leves. "Há uma cena muito engraçada do filho que chega para a mãe e conta que é gay."
Alguns fantasmas foram exorcizados no dia 4 de agosto, com a pré-estréia fechada para familiares. "Houve receio. Alguns diziam brincando que não fariam a cena no dia em que o pai estivesse na apresentação", diz Tavares. "Teve um caso de um pai que tem uma cena de uma surra. Ele ficou incomodado. Gerou uma conversa, mas já está superado."


INTERIOR. Direção e dramaturgia: Abílio Tavares. Com: grupo Tusp. Onde: Tusp (r. Maria Antonia, 294, Vila Buarque, tel. 3255-5538). Quando: de ter. a qui., às 21h; até o final de 2002. Quanto: R$ 15. 110 min.



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