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Americano desafia os originais
Allan McCollum faz individual com pastiche da reprodução em massa: vasos, formas e quadros idênticos
Artista conceitual que esteve na última Bienal de São Paulo ganha primeira mostra de peso no Brasil, aberta hoje pela galeria Luciana Brito
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Allan McCollum não acredita em auras atrofiadas. Não importa que as obras de arte não
sejam mais únicas. Seu trabalho é feito de cópias, substitutos e originais questionáveis.
Desde que é possível produzir quase tudo em grande escala, o mercado de arte se equilibra tentando restringir circulações, edições de gravuras e impressões fotográficas, mantendo a escassez como motor da
demanda e âncora dos preços.
Na contramão, McCollum,
ou seu discurso, dispensa objetos únicos. "A reprodução cria
outro tipo de aura, uma aura
que inclui o espectador", diz o
americano, que abre hoje individual na galeria Luciana Brito.
"Vejo certa magia em alguém
com os mesmos sapatos que o
meu, a xícara de café, a mesma
coisa nas mãos de tanta gente."
Num pastiche da reprodução
em massa, McCollum dispõe
50 vasos idênticos lado a lado,
70 pinturas de um retângulo
negro, milhares de moldes de
madeira quase iguais, 12 dos
mesmos cachorros de gesso.
São cópias feitas a partir do
molde de um cão original petrificado pela erupção do Vesúvio
há quase dois milênios. Um
museu de Nápoles replicou o
bicho que morreu e fez outras
três cópias, espalhadas pela Itália. McCollum usou uma delas
para reproduzir sua série.
"Tem o cachorro que viveu
em Pompeia, o primeiro molde
do século 19, as cópias do museu e agora essa cópia e as cópias dela", lembra. "Mas estão
ligadas ao cachorro original e
ao sofrimento original dele."
McCollum gosta de lembrar
Brecht e como o dramaturgo
alemão usava artifícios para revelar que a peça era a peça, que
aqueles eram atores, que a plateia era a plateia. Ele tenta fazer
o mesmo em suas instalações.
"Isso é o duplo de uma galeria
de arte, como num palco, no
centro da ação", diz McCollum.
"Antes, fazia objetos singulares, mas não viam esses objetos
como acessórios cênicos."
De certa forma, toda a obra
de McCollum vira objeto cênico também, um sinal dela mesma, vista como a obra ao fundo,
no cenário, dentro da teatralidade orquestrada pelo artista,
como se essa fosse uma performance. Ele propõe a exposição
toda como grande instalação,
uma curadoria autofágica levada às últimas consequências.
Mas não é um trajeto sem escalas. Lá onde era possível programar uma máquina para executar todas as cópias, McCollum decide dar as próprias pinceladas, muda as cores e reajusta dimensões milimétricas. Tudo parece igual, mas não é.
"Estou buscando o melhor
dos dois mundos", admite o artista. "Decidir se algo é original
ou cópia é ambíguo, uma construção social, a ideia de que o
rei é o filho de Deus e de que todos os peões são idênticos."
Suas quase cópias são vendidas a preço de original, mas
sempre em série. "Cobro mais
se são mais objetos e menos se
são menos objetos", explica.
"Tem preços diferentes, porque algumas pessoas querem
pagar mais pelos originais."
ALLAN MCCOLLUM
Quando: ter. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 11h às 17h
Onde: Luciana Brito (r. Gomes de
Carvalho, 842, tel. 3842-0634)
Quanto: entrada franca
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