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TEATRO
Especialistas apontam conquistas no gênero, mas afirmam que ainda faltam ousadia e rigor para os espetáculos
Peças infantis ganham público e qualidade
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA
Quem acompanhou o teatro para crianças nos últimos três anos
observa a qualidade desse gênero
de entretenimento. É possível divertir os filhos em São Paulo assistindo a boas peças e com elas conhecer variados assuntos, desde
música clássica até estéticas de
vanguarda (leia no quadro).
Os especialistas que produzem
para esse público são unânimes:
houve crescimento do teatro de
grupo e aumentou o interesse em
produzir para crianças.
Hugo Possolo (do grupo de circo e teatro Parlapatões, Patifes e
Paspalhões) diz que "isso se deve
ao desenvolvimento do teatro de
grupo a partir dos anos 90". Se,
por um lado, ele fala que ainda falta visibilidade para a dramaturgia
para crianças, por outro, diz que
"não se enxerga a força econômica que esse teatro tem na cidade".
Em outras palavras, o público tem
crescido, e a mídia não vê.
Fernando Anhê diz que a divulgação do teatro infantil é "tímida". "Sinto necessidade de mais
críticos para ver as coisas de mais
ângulos." Mas isso não interfere
no sucesso de seu espetáculo: "A
situação de bilheteria de "Pedro e
o Lobo" tem sido feliz, já que no
teatro infantil o valor do ingresso
é baixo, e [o profissional] depende de patrocinador".
Jamil Maluf, diretor artístico e
criador da Orquestra Experimental de Repertório e co-autor de
"Pedro e o Lobo", crê que a qualidade das montagens oscila entre
extremos: "Ou há trabalhos démodés ou grandes espetáculos. O
nível do teatro infantil brasileiro é
muito mais alto do que muita coisa para adultos, com grupos como o XPTO, o Acrobático Fratelli,
o Pia Fraus, o Imago. São companhias que percebem que a criança
tem cultura visual exigente, que
não é teórica nem verbalizada".
Alexandre Roit, co-ganhador de
prêmios da Associação Paulista
de Críticos de Arte por "Os Três
Porquinhos" e "Piratas do Tietê",
diz que tem feito mais teatro para
crianças e jovens do que antes.
"Um dos fatores que ajudam o
teatro infantil são os grupos. Reparou como é mais rara a produção independente? Isso se deve à
consolidação da Cooperativa
Paulista de Teatro."
Outro fator, embora o ator e diretor diga que "torce o nariz" para
ele, é o estímulo de prêmios oferecidos pela Coca-Cola e distribuidores (Panamco Spal e Femsa).
"A diferença do [teatro do] Rio
para São Paulo era visível. O patrocínio não existia aqui e, depois
que passou a existir, a qualidade
mudou. Eles têm esse mérito, não
tem jeito."
Silvana Garcia, professora da
Escola de Arte Dramática da USP,
acrescenta: "A melhoria se deve
ao investimento, nas duas últimas
duas décadas, em arte-educação,
que criou um público mais exigente no meio dos professores.
Mas infelizmente o teatro infantil
é para muitos a ante-sala do teatro
para adultos, há espetáculos ainda
concebidos ainda sob o esquema
televisivo".
Bebê de Soares, do 4Garoupas,
que instiga as crianças com Samuel Beckett, diz que "falta ousadia estética e maior peso na dramaturgia. De tudo o que vi, considero meu irmão de fé o dramaturgo e diretor Vladimir Capella, que
é, como eu, o único que tem coragem de fazer a platéia chorar!".
Na visão de Lígia Cortez, atriz e
diretora da escola de teatro Célia
Helena, "o teatro infantil tem gente bacana, não só de produção
mas de pensamento, de escolha,
comparado com 20 anos atrás.
Mas ainda falta uma política de
governo para o teatro".
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