São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

Índice

TEATRO

Especialistas apontam conquistas no gênero, mas afirmam que ainda faltam ousadia e rigor para os espetáculos

Peças infantis ganham público e qualidade

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Quem acompanhou o teatro para crianças nos últimos três anos observa a qualidade desse gênero de entretenimento. É possível divertir os filhos em São Paulo assistindo a boas peças e com elas conhecer variados assuntos, desde música clássica até estéticas de vanguarda (leia no quadro).
Os especialistas que produzem para esse público são unânimes: houve crescimento do teatro de grupo e aumentou o interesse em produzir para crianças.
Hugo Possolo (do grupo de circo e teatro Parlapatões, Patifes e Paspalhões) diz que "isso se deve ao desenvolvimento do teatro de grupo a partir dos anos 90". Se, por um lado, ele fala que ainda falta visibilidade para a dramaturgia para crianças, por outro, diz que "não se enxerga a força econômica que esse teatro tem na cidade". Em outras palavras, o público tem crescido, e a mídia não vê.
Fernando Anhê diz que a divulgação do teatro infantil é "tímida". "Sinto necessidade de mais críticos para ver as coisas de mais ângulos." Mas isso não interfere no sucesso de seu espetáculo: "A situação de bilheteria de "Pedro e o Lobo" tem sido feliz, já que no teatro infantil o valor do ingresso é baixo, e [o profissional] depende de patrocinador".
Jamil Maluf, diretor artístico e criador da Orquestra Experimental de Repertório e co-autor de "Pedro e o Lobo", crê que a qualidade das montagens oscila entre extremos: "Ou há trabalhos démodés ou grandes espetáculos. O nível do teatro infantil brasileiro é muito mais alto do que muita coisa para adultos, com grupos como o XPTO, o Acrobático Fratelli, o Pia Fraus, o Imago. São companhias que percebem que a criança tem cultura visual exigente, que não é teórica nem verbalizada".
Alexandre Roit, co-ganhador de prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte por "Os Três Porquinhos" e "Piratas do Tietê", diz que tem feito mais teatro para crianças e jovens do que antes. "Um dos fatores que ajudam o teatro infantil são os grupos. Reparou como é mais rara a produção independente? Isso se deve à consolidação da Cooperativa Paulista de Teatro."
Outro fator, embora o ator e diretor diga que "torce o nariz" para ele, é o estímulo de prêmios oferecidos pela Coca-Cola e distribuidores (Panamco Spal e Femsa). "A diferença do [teatro do] Rio para São Paulo era visível. O patrocínio não existia aqui e, depois que passou a existir, a qualidade mudou. Eles têm esse mérito, não tem jeito."
Silvana Garcia, professora da Escola de Arte Dramática da USP, acrescenta: "A melhoria se deve ao investimento, nas duas últimas duas décadas, em arte-educação, que criou um público mais exigente no meio dos professores. Mas infelizmente o teatro infantil é para muitos a ante-sala do teatro para adultos, há espetáculos ainda concebidos ainda sob o esquema televisivo".
Bebê de Soares, do 4Garoupas, que instiga as crianças com Samuel Beckett, diz que "falta ousadia estética e maior peso na dramaturgia. De tudo o que vi, considero meu irmão de fé o dramaturgo e diretor Vladimir Capella, que é, como eu, o único que tem coragem de fazer a platéia chorar!".
Na visão de Lígia Cortez, atriz e diretora da escola de teatro Célia Helena, "o teatro infantil tem gente bacana, não só de produção mas de pensamento, de escolha, comparado com 20 anos atrás. Mas ainda falta uma política de governo para o teatro".


Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.