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"Shopping"
fragmenta
a história
da Reportagem Local
Uma das maiores interrogações, diante de uma peça como
"Shopping e Fucking", é se tem
algo a dizer fora de seu ambiente de origem. São quatro jovens
londrinos sem vontade, que
não entendem por que trabalhar, por que ganhar dinheiro,
por que não ficar ali, vendo TV,
depois tomar um ácido, ir para
a cama.
Na origem, são filhos da ressaca social e ideológica dos
anos Margaret Thatcher. No
Brasil, a identificação é indireta, distante, mas a encenação
de Marco Ricca consegue algumas pontes. Um de seus pontos
de partida é que aqueles jovens
não se identificam mais com
coletivo nenhum, a não ser no
nível mais imediato, dos amigos, de ir para o clube dançar,
coisa assim.
O texto é explícito, aliás,
quando um dos jovens diz:
"Tempos atrás havia grandes
histórias. Tão grandes que você
podia passar a vida toda acreditando nelas. "A Poderosa Força
das Mãos de Deus e seu Destino". "A Viagem do Esclarecimento". "A Marcha do Socialismo". Mas todas elas morreram
ou foram consumidas. E então
nós agora estamos inventando
nossas próprias histórias. Pequenas histórias".
"SF" é feita de pequenas histórias de amor e sexo, mercado
e dinheiro, drogas e violência,
mescladas entre elas -juntando sexo e comércio, amor e vício etc. São, nos tempos que
correm, pequenas histórias
universais, identificáveis no
Brasil e seja lá onde for. Isso a
montagem alcança, apesar de
aqui e ali ameaçar restringir as
tais pequenas histórias e seus
personagens à chamada cultura "clubber", o que é um evidente equívoco.
"SF", no Brasil, poderia ser
mais uniforme na construção
dos papéis. Ricardo Blat, que
centraliza a peça como Mark,
amante dos demais todos, tem
uma grande cena, quando conta uma "pequena história" perto do final. Mas no mais segue o
tempo todo à procura do personagem. O mesmo vale para
Rubens Caribé, que desperdiça
muito de seu hilariante Robbie,
em princípio o papel mais engraçado da peça.
Sílvia Buarque, a Lulu do
triângulo amoroso com Mark e
Robbie, Laerte Mello, um traficante que tenta ensiná-la e a
Robbie, violentamente, a importância do dinheiro, e Edu
Guimarães, um garoto de programa, têm maior continuidade e definição nas interpretações. Guimarães, em especial, é
uma revelação de ator, que não
deve parar em seu Gary -tão
superior, diga-se, ao da montagem londrina.
"Shopping e Fucking" forma,
ao lado de "Angels in America"
e do musical "Rent", um dos
painéis mais significativos que
o teatro conseguiu dos fragmentados anos 90, no mundo.
A montagem de Marco Ricca,
apesar das lacunas pontuais, se
mostrou à altura da tarefa.
(NS)
Avaliação:
Peça: Shopping & Fucking
Texto: Mark Ranvehill
Tradução: Laerte Mello
Trilha sonora: Eduardo Queiroz
Quando: qui. a sáb. (21h); dom. (18h)
Onde: Sesc Pompéia - teatro (r. Clélia,
93, tel. 3871-7777)
Quanto: R$ 5 (comerciário) e R$ 10
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