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Crítica/ "Till, a Saga de um Herói Torto"
Peça consagra a arte de narrar de Luiz Alberto de Abreu
Texto do dramaturgo marca reencontro do grupo Galpão com sua melhor fase
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
As grandes narrativas
não morrem e o dramaturgo ainda é quem
funda o teatro. Pelo menos
quando se evoque uma lenda de
700 anos e se trate de um autor
com a bagagem de Luiz Alberto
de Abreu. É sobre esses pilares,
e com o carisma do grupo Galpão, que se ergue a peça "Till, a
Saga de um Herói Torto".
O espetáculo foi projetado
para apresentações ao ar livre,
em grandes espaços públicos.
Não é exatamente uma dinâmica de "teatro de rua", já que se
arma uma relação frontal entre
um palco maquinado com alçapões e recursos de luz e uma
plateia acomodada. Mas isso
não diminui em nada o brilho
desse retorno do Galpão à comédia popular.
O primeiro e mais decisivo
trunfo é a dramaturgia de
Abreu. Próximo de completar
30 anos de trabalho continuado, com dezenas de peças escritas e alguns roteiros para cinema e televisão, ele se destaca
solitário como o mais prolífico
e encenado dos autores de sua
geração.
No caso de "Till, a Saga de um
Herói Torto", foi escrita em
1999, como uma das partes de
trilogia em torno do folclore da
cultura europeia. Till é uma figura lendária que surge no início do século 14, na atual Alemanha, e se firma no velho continente através de uma coleção
de pequenos episódios sobre as
suas estripulias e genialidade
na arte de enganar os outros.
Abreu se apropria do mito reforçando o seu caráter de agente intermediário entre mundo
medieval e período renascentista. Assim, a tríade de cegos
que faz as cenas de contraponto
às aventuras de Till debate se o
mundo será sempre como é ou
se poderá mudar. Esse tratamento cristalino de questões
complexas aproxima o dramaturgo de Brecht, mas não trai o
próprio espírito das moralidades medievais.
Diante dessa, ao mesmo tempo, sofisticada e popularíssima
estrutura dramática, o Galpão
se reencontra com a melhor fase de sua produção, em que se
combinavam um tratamento
despojado da cena com uma
técnica refinada de interpretação. Os atores parecem à vontade nos tipos marcados que
constroem e, na tradição do
teatro épico, atuam como narradores e agentes da saga.
Um destaque inevitável é
Inês Peixoto, que desempenha
com desenvoltura o personagem central, imprimindo-lhe
uma leveza e graça femininas,
mas sem prejuízo das facetas
demoníaca e escatológica. O cenário e figurinos de Márcio Medina também colaboram na
combinação vitoriosa de simplicidade e intensidade.
É um espetáculo para todos
os públicos e que consagra um
autor apaixonado pela arte de
narrar.
TILL, A SAGA DE UM
HERÓI TORTO
Quando: sábado (31/10) e domingo
(1º/11), às 20h
Onde: Parque da Independência (av.
Nazareth, s/nº)
Quanto: entrada franca
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo
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